Gay que jogou Copa e virou cartola na Alemanha prefere futebol a militância
Rafael Reis
28/03/2019 04h00
"Thomaz Hitzlsperger só deseja falar sobre questões esportivas. Então, não podemos dar um feedback positivo a respeito da sua solicitação de entrevista".
Foi essa a resposta dada pela assessoria de imprensa do Stuttgart quando procurada pelo "Blog do Rafael Reis" com um pedido de entrevista com ex-jogador, atual dirigente e homossexual assumido mais importante do futebol mundial.
A negativa é padrão. Ao longo dos últimos cinco anos, foram várias as tentativas de falar com o ex-meia que disputou a Copa do Mundo-2006 e a Eurocopa-2008 pela seleção alemã. Todas foram barradas quando o assunto do bate-papo veio à tona: sua sexualidade.
Em 8 de janeiro de 2014, Hitzlsperger fez história. Menos de quatro meses após anunciar sua aposentadoria dos gramados, tornou pública sua orientação sexual. Até então, nunca um jogador de deste patamar internacional havia "saído do armário".
Em 12 anos como profissional, o alemão defendeu times razoavelmente importantes de três das maiores ligas nacionais do planeta: Inglaterra (Aston Villa, Everton e West Ham), Itália (Lazio) e Alemanha (Stuttgart e Wolfsburg). Também defendeu 52 vezes a seleção germânica.
Mas, desde que contou para o mundo que é homossexual, o ex-meia pouco voltou a falar sobre o tema. São raros os posts de suas redes sociais ligados a questões do universo LGBT ou que trazem símbolos gays. As entrevistas em que toca no tema são ainda mais incomuns.
De acordo com fontes da Alemanha ouvidas pela reportagem, Hitzlsperger possui naturalmente um perfil mais discreto em relação à sua vida social. Além disso, não se envolve tanto com a militância porque não quer ser reconhecido "apenas" por sua homossexualidade.
Seu objetivo é ser reconhecido como mais um dirigente esportivo de sucesso na Europa. Um dirigente que também é gay.
Hitzlsperger tem tido uma carreira meteórica como cartola no Stuttgart. Em 2016, ele foi contratado para ser uma espécie de embaixador do clube. No ano seguinte, ganhou um cargo no conselho diretivo. No ano passado, passou a comandar as categorias de base. E, em fevereiro, foi promovido ao posto de diretor esportivo.
Dentro da hierarquia do clube, que nesta temporada luta contra o rebaixamento na primeira divisão alemã, o ex-jogador só está abaixo do presidente Wolfgand Dietrich.
"Os torcedores estão muito mais esclarecidos hoje em dia. Sempre haverá aquelas ofensas cotidianas nas ruas, mas os jogadores que quiserem se assumir não precisam mais se preocupar com a torcida. O medo só está na mente deles", disse o dirigente, em uma rara entrevista sobre o tema à rádio ARD, no começo do ano.
A homossexualidade ainda é um tabu dos grandes no mundo do futebol, principalmente no esporte masculino. Poucos são os jogadores que tiveram a coragem de Hitzlsperger. O principal atleta gay em atividade na modalidade é o meia-atacante norte-americano Collin Martin, do Minnesota United.
Robbie Rogers, que chegou a defender a seleção dos EUA antes de tornar pública a orientação sexual e também virou um ícone do orgulho gay durante o período em que jogou no Los Angeles Galaxy, decidiu se aposentar no fim de 2017.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.