Campeão na Ásia, Qatar clona Barcelona para não fazer feio em 2022
Rafael Reis
01/02/2019 14h04
Se o Qatar derrotou o Japão por 3 a 1, nesta sexta-feira, sagrou-se campeão da Copa da Ásia e conquistou o título mais importante de sua história no futebol, parte da responsabilidade pelo sucesso é do Barcelona.
Foi olhando para o jogo praticado por Lionel Messi e seus companheiros e importando ideias e recursos humanos do gigante espanhol que o país-sede da próxima edição da Copa do Mundo construiu seu projeto de evolução na modalidade para não fazer feio em 2022.
O DNA do Barça está impresso em todos os cantos da seleção qatariana.
Seu técnico, o espanhol Félix Sánchez, trabalhou durante dez anos nas categorias de base do clube catalão (e até dirigiu Messi) antes de ser contratado pelo governo do minúsculo país de população inferior a 3 milhões de habitantes.
O treinador desembarcou no Oriente Médio em 2006 para implantar a consagrada filosofia de jogo culé nos jovens qatarianos e transformar a Aspire Academy, o centro de formação de novos atletas da nação, em uma espécie de versão asiática de La Masia, a casa da base do Barcelona.
Sánchez permaneceu na "escolhinha" por sete temporadas até ser convidado para dirigir a seleção sub-19. Ele também comandou os times sub-20 e sub-23 até substituir o uruguaio Jorge Fossati na direção da equipe principal, em 2017.
Sua comissão técnica é recheada de compatriotas e velhos conhecidos dos tempos de Barça. O assistente Sergio Alegre e os preparadores físicos Alberto Mendez-Villanueva e Carlos Domenech também deixaram a Catalunha para ingressar no projeto dos organizadores do próximo Mundial.
O técnico do Qatar conta ainda com uma espécie de consultoria de luxo de um dos maiores especialistas em "barcelonismo" no planeta: o meia Xavi Hernández, que atua no país desde 2015 e vem sendo treinado por Sánchez para ingressar na carreira de técnico.
Pep Guardiola, que fez história no comando do time catalão entre 2009 e 2012, Messi e o zagueiro Gerard Piqué são outros ícones do clube que visitaram o país nos últimos anos para conversar com os garotos da Aspire e lhes dar dicas sobre como se comportar em um campo de futebol.
O intercâmbio não é gratuito. Em 2010, a Qatar Foundation, entidade criada para promover o nome do país no exterior e fomentar pesquisas em educação e cultura, foi a primeira patrocinadora de camisa da história do Barcelona.
O clube continuou reservando o espaço mais nobre do seu uniforme para empresas da nação até a temporada passada, quando assinou com a japonesa Rakuten.
Além da inspiração no Barcelona, outro fator é essencial para entender a evolução do Qatar no cenário internacional da bola.
A seleção se apoia em um programa de naturalização agressiva de jogadores, muitos deles garimpados ainda jovens pela Aspire em países de condições econômicas precárias, para reforçar seu time.
O atacante Almoez Ali, artilheiro da Copa da Ásia, com nove gols, e grande nome da campanha, é nascido no Sudão. Dos 23 atletas que formam a equipe, sete nasceram em outros países e só ganharam posteriormente a cidadania qatariana (e a chance de jogar pela seleção).
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.