1º gay a jogar Copa do Mundo hoje comenta futebol, mas se diz "voz isolada"
Rafael Reis
04/12/2019 04h00
Desde 1930, já foram disputadas 21 edições da Copa do Mundo masculina. Ao longo dos últimos 89 anos, mais de 7 mil jogadores já participaram da principal competição de futebol da Terra. Só que nenhum deles era abertamente homossexual no momento da disputa.
Mas isso não significa que os gays não façam parte da rotina do esporte mais popular do planeta. Eles estão em meio aos torcedores, árbitros, dirigentes, integrantes das comissões técnicas e também dentro de campo.
Lá em 1978, um atacante ainda em início de carreira e que só sairia do armário três décadas mais tarde, depois de encerrar a carreira nos gramados e também como treinador, disputou a Copa do Mundo por uma das seleções mais tradicionais da modalidade.
O francês Olivier Rouyer foi (até onde se sabe) o primeiro jogador homossexual, ainda que mantivesse sua vida privada longe dos holofotes na época, a disputar a competição.
No Mundial da Argentina, ele participou de duas partidas, ambas válidas pela fase de grupos: entrou no segundo tempo da derrota por 2 a 1 para a Itália e foi titular na vitória por 3 a 1 sobre a Hungria.
Amigo pessoal de Michel Platini, um dos grandes da história do futebol mundial, ao lado de quem começou a carreira no Nancy, Rouyer tinha só 22 anos na época em que foi convocado. Ele ainda defendeu Chaumont, Strasbourg, Lyon e dois times semiprofissionais na reta final da carreira.
Depois de aposentado, ele dirigiu o Nancy durante três temporadas, em 1991 e 1994, e teve uma rápida passagem como treinador do Sion, da Suíça, em 1999.
Em 2008, já como comentarista de TV, função que exerce até hoje, Rouyer chamou a atenção do mundo do futebol ao quebrar um tabu. Em entrevista ao jornal "L'Équipe", anunciou ao mundo que se relacionava amorosa e sexualmente com homens.
"Quando saí do armário, nenhuma personalidade do futebol me ligou. Houve um grande silêncio. Até hoje, me sinto uma voz isolada sobre o assunto. Minha vontade é construir algo para realmente proibir esses comportamentos homofóbicos no futebol. Mas, por enquanto, ninguém compra essa briga", disse, ao "Le Monde", em setembro.
Mais de 40 anos depois da Copa-1978, a homossexualidade é algo que continua escondida nos porões do futebol. Casos como o Rouyer, de jogadores ou ex-jogadores de expressão que tornaram públicas a orientação sexual, ainda são raros.
O alemão Thomas Hitzlsperger, terceiro colocado no Mundial-2006, saiu do armário em 2014, mas só depois da aposentadoria. O norte-americano Robbie Rogers fez o mesmo em 2013, quando revelou ser gay e largou o futebol, mas voltou aos gramados e ainda atuou por mais três anos.
Atualmente, os atletas profissionais de futebol assumidamente homossexuais podem ser contados nos dedos. Nos EUA, há o meia Collin Martin, do Minnesota United. Na Austrália, o atacante Andry Brennan. E a lista não vai muito além disso.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.