Como carrasco do Palmeiras no Mundial castigou pai de goleador da Champions
Rafael Reis
05/11/2019 04h00
Artilheiro da Liga dos Campeões, com seis gols em três partidas e apenas 19 anos nas costas, o centroavante norueguês Erling Haaland se transformou no novo queridinho do futebol europeu nesta temporada.
O camisa 30 do Red Bull Salzburg tem recebido elogios de jornalistas, jogadores e ex-atletas do mundo todo e está na lista de desejos de boa parte dos principais clubes do planeta para as próximas janelas de transferências.
Mas há pelo menos um grande ícone do futebol nas últimas décadas que não está muito feliz com o sucesso arrebatador do "Baby Ibrahimovic".
Capitão do Manchester United durante oito temporadas, um dos ídolos da "era Alex Ferguson" e autor do gol da vitória por 1 a 0 sobre o Palmeiras no Mundial Interclubes de 1999, o ex-volante Roy Keane não tem uma relação nada boa com a família do jovem astro norueguês.
Afinal, o irlandês simplesmente odeia o pai do atacante do Salzburg, Alf-Inge Haaland. A rivalidade entre os dois marcou época no futebol inglês das décadas de 1990 e 2000 e foi construída à base de muitas porradas, ofensas públicas e promessas (concretizadas) de revanche.
Tudo começou em 1997, quando Haaland pai atuava como zagueiro e volante do Leeds United. Após um choque com o norueguês, o então jogador do United rompeu o ligamento cruzado do joelho. No chão e se contorcendo de dor, levou uma bronca do adversário por supostamente estar simulando uma contusão.
Keane ficou nove meses afastado do futebol e nunca se esqueceu daquele episódio. Pelo contrário, falava para quem quisesse ouvir que ainda reencontraria o algoz nos gramados da vida e que, se tivesse a oportunidade de encerrar prematuramente a carreira do agressor, não a desperdiçaria.
A chance veio depois de quatro anos. Em 2001, quando Haaland já defendia o Manchester City, o irlandês viu o adversário com a bola nos pés e não teve dúvidas: voou com a sola da chuteira na direção do joelho do norueguês.
Keane nem reclamou do cartão vermelho. Com cara de "dever cumprido", ainda fez questão de xingar o adversário antes de sair do gramado. Pela agressão, o volante do United recebeu cinco jogos de suspensão. "Ele teve o que merecia", disse, anos mais tarde, em sua autobiografia.
Com uma grave lesão na perna esquerda, Haaland nunca mais foi o mesmo. Ele tentou continuar jogando por mais dois anos, mas não conseguiu se manter em atividade. Em 2003, anunciou sua aposentadoria precoce, aos 30 anos.
Oito anos mais tarde, ensaiou um novo retorno ao futebol e participou da terceira divisão do Campeonato Norueguês. Mas sua carreira já havia sido destruída por Keane.
Agora, vê o filho brilhar no mais alto escalão do futebol europeu. Apesar de ainda ter 19 anos, o garoto já tem 43 gols como profissional e é o recordista no número de gols marcados em uma única partida em competições organizadas pela Fifa –fez nove contra Honduras no Mundial sub-20 deste ano.
O sucesso colocou Haaland filho na mira das maiores potências europeias. Real Madrid, Juventus, Manchester City, Liverpool e até o United, antigo time de Keane e clube pelo qual seu pai sempre diz que não nutre nenhuma simpatia, já foram apontados como o futuro destino do artilheiro da Champions.
Em sua primeira participação na fase principal da Champions, o Salzburg ocupa a terceira colocação do Grupo E, o mesmo do Liverpool, com três pontos. Hoje, o atual hexacampeão austríaco visita o Napoli, líder da chave, para se manter vivo na briga pela classificação.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.