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Como TV pirata da Arábia virou inimiga número 1 da Fifa e das grandes ligas

Rafael Reis

30/01/2019 04h00

Uma emissora de televisão baseada na Arábia Saudita e supostamente financiada pelo governo local se transformou em uma espécie de inimiga número um das principais entidades que gerenciam o futebol e também das ligas nacionais mais importantes do planeta.

A "declaração de guerra" veio na semana passada, quando Fifa, Uefa, AFC (Confederação Asiática de Futebol), La Liga (Campeonato Espanhol), Premier League (Inglês) e Bundesliga (Alemão) emitiram um comunicado conjunto condenando as ações da rede BeoutQ.

Crédito: Reprodução

De acordo com a carta, divulgada pelos canais de comunicação dessas seis entidades, a emissora tem transmitido eventos esportivos sobre os quais não tem direito. Ou seja, esses órgãos acusam os sauditas de estarem praticando pirataria em eventos como a Copa da Ásia-2019 e a Liga dos Campeões da Europa.

"As atividades da BeoutQ são uma violação clara e flagrante dos nossos direitos de propriedade intelectual. A pirataria da BeoutQ não prejudica apenas a nós, detentores de direitos, mas também os canais licenciados legítimos e, finalmente, os torcedores das nossas competições. O dinheiro arrecadado com a venda dos direitos de transmissão permite-nos ajudar a apoiar os participantes, assim como desenvolver o esporte pelo qual somos responsáveis. A pirataria mata este investimento", afirma o comunicado.

Ainda na carta, as entidades prometem "trabalhar de perto com os parceiros e as autoridades competentes para fazer cumprir e defender os nossos direitos de propriedade intelectual e acabar com esta pirataria generalizada para benefício de todos".

Essa não é a primeira vez que a BeoutQ é acusada de violação dos direitos autorais de eventos esportivos. No ano passado, a Fifa ameaçou processar a emissora por transmitir ilegalmente a partida de abertura da Copa do Mundo, entre Rússia e Arábia Saudita. Logo depois, foi a vez da Liberty Media, dona da F1, realizar a mesma ameaça em virtude de exibições ilegais da principal categoria do automobilismo mundial.

O que diferencia a empresa de várias outras plataformas espalhadas pela internet que fazem pirataria e reproduzem de forma irregular conteúdos produzidos por canais que possuem os direitos de transmissão dos eventos é a questão geopolítica ligada à sua existência.

A BeoutQ nasceu em 2017, justamente na época em que o governo da Arábia Saudita decidiu cortar relações diplomáticas com o Qatar sob acusação de que o país estava colaborando com grupos terroristas. Coincidência ou não, a emissora tem pirateado o sinal da BeIN Sports, empresa qatariana que transmite os principais campeonatos do planeta para o Oriente Médio.

O canal já conduziu uma investigação própria e concluiu que o responsável pelo esquema de captação e retransmissão dos eventos conta com apoio do governo saudita. A prova dessa conexão seria que o sinal de BeoutQ é espalhado pelo Oriente Médio, via Arabsat, a empresa de satélites do país rival.

As autoridades sauditas, no entanto, negam que sejam responsáveis pelo esquema de pirataria. Também dizem não ter nenhuma ligação com o nome da companhia: BeoutQ, um trocadilho com BeIN e uma redução da frase "Be Out Qatar", algo como "Fique Fora, Qatar".

Vale lembrar que o Qatar será sede da próxima edição da Copa do Mundo e é um dos grandes financiadores do futebol mundial na atualidade. O Paris Saint-Germain, por exemplo, é bancado por um fundo de investimentos do país árabe. Já a Qatar Airways, empresa aérea do país, é uma das patrocinadoras da Fifa.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.


Rafael Reis