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Como fascismo criou o 1º esquadrão da história do futebol europeu

Rafael Reis

16/10/2018 04h00

O fascismo foi um regime que cassou liberdades individuais na Itália entre as décadas de 1920 e 1940, provocou direta ou indiretamente mais de 400 mil mortes e levou o país a se aliar com a Alemanha e Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial.

Mas foi durante o governo do ditador Benito Mussolini, entre 1922 e 1943, que a Europa conheceu o seu primeiro esquadrão no futebol. E a montagem desse supertime teve tudo a ver com o "Il Duce".

O chefe do governo italiano percebeu rapidamente que poderia usar a modalidade como um importante instrumento de propaganda para seu regime e como um fator de união nacional. A partir daí, fez de tudo para transformar seu país na potência número um do futebol mundial.

A estratégia não demorou para dar resultado. A seleção italiana foi a primeira a ganhar duas edições da Copa do Mundo (1934 e 1938) e, sob o comando de Vitorio Pozzo, ganhou 60 dos 87 jogos que disputou entre 1929 e 1948.

O papel do fascismo na montagem dessa equipe foi completo. Para começar, o regime de Mussolini adotou várias táticas para fortalecer o futebol local e fazer dele uma paixão verdadeiramente nacional.

Foi durante o período do autoritarismo que a Itália deixou de ter campeonatos regionalizados e ganhou uma primeira divisão no formato atual, com disputa em pontos corridos entre times de todos os cantos do país.

Mussolini também limitou a presença de clubes de uma mesma cidade na elite do futebol nacional. A ideia era fazer com que as equipes do sul do país se desenvolvessem e, assim, ampliassem o alcance da propaganda ideológica do ditador.

O chefe do governo também escancarou a porta da seleção para os "oriundi", os descendentes de italianos nascidos em outros países, processo que até hoje faz sucesso na Azzurra, que conta, por exemplo, com o volante brasileiro Jorginho (Chelsea).

O time campeão mundial de 1934 contava com quatro argentinos, um francês, um austro-húngaro e até um brasileiro, o atacante Filó, que havia jogado no Corinthians antes de se transferir para a Lazio.  Em 1938, no bi, a legião estrangeira ganhou ainda o reforço de um uruguaio.

Mussolini ainda teve papel direto no dia a dia das conquistas que fizeram da Itália a seleção a ser batida na primeira metade do século passado.

Em 1934, fez questão de receber a Copa do Mundo (e, dizem as más línguas, teve um papel de bastante influência sobre a arbitragem). Ainda naquele ano, presenteou cada jogador da Azzurra com um automóvel Alfa Romeo pela vitória em um amistoso contra a Inglaterra, país inventor do futebol que se recusava a disputar o Mundial.

Quatro anos depois, antes da final contra a Hungria, enviou um telegrama aos jogadores que se tornou célebre. O conteúdo pode ser resumido em uma frase: "Vincere o Morire!" (Vencer ou Morrer, em tradução para o português). A vitória por 4 a 2 na decisão livrou a cabeça de todo o elenco.

O curioso é que Mussolini nem era tão chegado assim em futebol.  O ditador considerava que o esporte feria a identidade italiana já que havia sido criado por ingleses e tentou emplacar no país o Calcio Fiorentino, um jogo medieval tipicamente nacional.

Como a aposta falhou, o líder fascista abraçou o futebol e escolheu um time, a Lazio, para abraçar. Até hoje, mais de 70 anos depois da derrocada do regime, parte dos torcedores da equipe romana ainda são identificados com a extrema-direita e com causas como racismo e xenofobia.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.


Rafael Reis