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Rafael Reis

Por que a Fifa tem mais países filiados que a ONU?

Rafael Reis

10/09/2019 04h20

"O futebol é tão importante que a Fifa conta com mais países filiados que a ONU". É bem provável que você, em algum momento da vida, já tenha ouvido esse argumento sobre a popularidade da modalidade.

Porém, como é possível que essa afirmação seja verdadeira se o mundo é um só e se, pelo menos em tese, não há como uma determinada nação praticar futebol e criar uma seleção se ela nem ao mesmo existe?

Crédito: Divulgação

Bem, antes de responder a essa pergunta, é necessário primeiramente checar a veracidade da afirmação de que a Fifa conta com um número maior de afiliados que a Organização das Nações Unidas.

Atualmente, a entidade que gerencia o futebol mundial conta com 211 associações nacionais filiadas. Todas elas possuem seleções próprias que disputam as competições chanceladas pelo órgão, como as eliminatórias para a Copa do Mundo.

O número deve crescer nos próximos anos, já que há uma lista de espera de países em busca de reconhecimento da Fifa.

Já a ONU, que foi criada em 1945 e contava originalmente com 51 nações-fundadoras, tem hoje 193 países. Eles estão aptos a participar da Assembleia Geral da entidade, que é realizada anualmente – há também edições extras do encontro, normalmente para discutir temas mais específicos.

A diferença no número de filiados das suas entidades é resultado de algumas decisões tomadas por elas. A principal é que a Fifa aceita como nações independentes alguns territórios que, na prática, são submissos a governos de outros países.

O caso mais conhecido vem da Europa. No mundo do futebol, Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda do Norte formam quatro seleções diferentes. Mas, na ONU e no "planeta político", eles são todos o mesmo país: o Reino Unido.

Há outros exemplos. O arquipélago de Curaçao, localizado no Mar do Caribe, é filiado à Fifa e disputa as competições de futebol como se fosse um país em voo solo. Só que, oficialmente, ele é um território vinculado à Holanda e que responde ao rei Willem-Alexander.

O mesmo acontece com Gibraltar e Anguilla (Reino Unido), Porto Rico e Samoa Americana (Estados Unidos), Hong Kong e Macau (China), Aruba (Holanda), Nova Caledônia (França) e uma porção de outros "países".

Há também nações que fazem parte da Fifa e possuem suas próprias seleções, mas que não existem perante os olhos da ONU porque não são reconhecidas como independentes por alguns dos seus membros.

Esse é o caso da Palestina, que não é reconhecida por Israel, Estados Unidos e parte considerável dos integrantes da União Europeia, e de Kosovo, cuja existência como nação autônoma é negada, por exemplo, pela Sérvia e pela Rússia.

Curiosamente, há também países que fazem parte da ONU, mas que não contam como associação nacional vinculada à Fifa e que, por isso, não possuem seleções próprias. A maioria deles é composta por pequenos arquipélagos, como Kiribati, Micronésia, Palau e Tuvalu.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.