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Rafael Reis

Ativista de esquerda e antiBrexit, Klopp se divide entre futebol e política

Rafael Reis

27/05/2019 04h00

"Nunca pagarei um plano privado de saúde. Nunca votarei em um partido porque promete baixar os impostos. Se há algo que jamais farei em toda minha vida é votar na direita."

As declarações dadas por Jürgen Klopp ao jornalista alemão Raphael Honigstein, autor de sua biografia "Klopp", deixam bem claras duas características do treinador do Liverpool, adversário do Tottenham na final da Liga dos Campeões, neste sábado.

Crédito: Andrew Yates/Reuters

A primeira é que o comandante dos Reds é um cara de esquerda. Ou melhor, um admirador da social-democracia, como costuma se intitular. A segunda é que ele não perde uma chance de falar de política.

Os jornalistas que cobrem diariamente o Liverpool sabem bem disso e não perdem uma oportunidade de colocar Klopp para discursar sobre temas que normalmente são ignorados pelos técnicos de futebol.

Nos últimos meses, o assunto político preferido do alemão tem sido o Brexit. Ele é radicalmente contrário à decisão do Reino Unido de sair da União Europeia e virou uma espécie de "porta-voz" do grupo que pede um novo plebiscito para que a população britânica possa rever sua posição.

"A União Europeia não é, não foi e nem será perfeita. Mas é a melhor ideia que tivemos até hoje. Devemos repensar o Brexit, levá-lo à votação novamente, mas desta vez com as pessoas devidamente informadas", disse Klopp, ao jornal "Guardian".

No começo do mês, o treinador voltou a tocar no tema, mas de forma irônica. Ele aproveitou que os quatro finalistas das competições continentais desta temporada são ingleses (Arsenal e Chelsea decidem a Liga Europa) para alfinetar outra vez o movimento antieuropeu.

"Ao menos os grandes clubes ingleses querem permanecer na Europa de todas as formas possíveis. Vocês [jornalistas] não entenderam essa, né? Porque o resto do país não quer [ficar na Europa]."

O Brexit é um dos maiores dilemas políticos da história recente do Reino Unido. Decidido em referendo popular realizado em 2016, ele não saiu do papel até hoje. Na última sexta-feira, a primeira-ministra Theresa May anunciou que irá renunciar ao cargo depois de não conseguir negociar com a União Europeia um acordo para a saída do bloco.

Mas o tema preferido de Klopp não é o único sobre o qual o treinador do Liverpool dá seus pitacos. O ativismo do alemão já atingiu o presidente dos EUA, Donald Trump, a quem chamou de "decisão estranha", e sempre aparece em discussões sobre temas cotidianos.

"Se eu estou bem, quero que os outros também estejam bem", disse, em outro trecho do livro sobre sua vida e carreira.

Antes de se tornar um dos treinadores mais badalados da atualidade, Klopp sonhou ser médico e teve uma carreira de pouco brilho como jogador de futebol. O sucesso só veio mesmo quando trocou os gramados pelo banco de reservas.

Ele passou sete temporadas no comando do Mainz, ganhou dois títulos alemães e foi finalista da Liga dos Campeões pelo Borussia Dortmund e, desde 2015, dirige o Liverpool, clube pelo qual ainda não ganhou nenhum título.

A taça do principal torneio interclubes da Europa é a maior obsessão de sua carreira. Klopp já bateu na trave duas vezes: em 2013, com o Dortmund, quando perdeu para o Bayern de Munique, e, no ano passado, já no comando dos ingleses, quando foi batido pelo Real Madrid.

Liverpool e Tottenham se enfrentam na final da Champions no dia 1º de junho, no estádio Wanda Metropolitano, casa do Atlético de Madri, na capital espanhola. Os Reds buscam o sexto título de sua história. Já os Spurs sonham com um troféu inédito.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.