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Rafael Reis

Por que o Manchester City decidiu comprar um clube da 3ª divisão da China?

Rafael Reis

21/02/2019 04h00

O Sichuan Junian foi o 24º colocado da última edição da terceira divisão chinesa, nunca passou da segundona e chegou a frequentar até o quarto escalão do futebol do país mais populoso do planeta durante três temporadas. Em 13 anos de existência, jamais conquistou um título e nunca revelou sequer um jogador importante.

Mesmo assim, o clube asiático anunciou na última quarta-feira que foi vendido para um consórcio liderado pelo City Football Group, fundo dos Emirados Árabes que é dono do poderoso Manchester City.

Crédito: Divulgação

Mas, afinal, o que os proprietários do atual campeão inglês e de um dos times mais badalados do futebol mundial na atualidade viram de tão especial em uma "equipezinha" de tamanho mínimo da China que justificasse o negócio?

A resposta, definitivamente, não está na bola. Na verdade, no projeto de expansão internacional do City, quase nunca está.

O Junian é o sexto clube irmão da equipe dirigida por Pep Guardiola. Além do seu time principal, uma potência do futebol inglês, City Football Group conta com mais cinco agremiações: New York City (Estados Unidos), Melbourne City (Austrália), Girona (Espanha), Yokohama Marinos (Japão) e Club Atletico Torque (Uruguai).

Até hoje, nenhuma dessas filiais mostrou disposição/competência para se tornar uma espécie de criadouro de jogadores que possam vir a defender no futuro a camisa mais valiosa da "família".

O máximo que o Melbourne City conseguiu foi vender o meia australiano Aaron Mooy para a filial inglesa para que ele fosse repassado ao Huddersfield Town. Já o Girona tem servido para abrigar um ou outro jogador do Manchester que não tem espaço no elenco principal, como o meia brasileiro Douglas Luiz e o meia-atacante Patrick Roberts.

O NY City, por outro lado, não serve nem para isso. O ápice da parceria entre os dois clubes foi servir de ponte em 2014 para que Frank Lampard não saísse do Chelsea diretamente para um dos seus rivais na Premier League.

Se o futebol não é o parâmetro principal levado em conta pelo City na hora de definir quais clubes irá adquirir e trazer para dentro da sua administração, o motivo principal da parceira é outro: negócios.

"A China é um mercado extremamente importante para o futebol e um mercado no qual já estávamos mirando há algum tempo", explicou o espanhol Ferran Soriano, CEO do grupo dono dos clubes.

Ou seja, ao comprar Sichuan Junian, o City está de olho é no mercado de 1,4 bilhão de consumidores que a China tem a oferecer. Com uma filial dentro do país, o clube pretende aumentar a exposição de sua marca por lá e assim vender mais camisas, lucrar mais com direitos de transmissão e angariar novos patrocinadores.

Contribuiu também para o negócio o fato de 13% das ações da empresa-gestora do time inglês já estarem nas mãos de chineses.

A Ásia já é um mercado importantíssimo para os clubes europeus. Na falta de ligas realmente interessantes dentro do próprio continente, os torcedores orientais adotaram já há um bom tempo o Campeonato Inglês como seu preferido. E o atual campeão da Premier League quer ganhar uma fatia maior desse espaço.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.