Em 10 anos, Brasil só emplaca três técnicos no 1º escalão da Europa
Rafael Reis
31/08/2018 04h00
As cinco principais ligas nacionais da Europa (Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França) contam nesta temporada com técnicos de 19 nacionalidades diferentes.
Uruguai, Chile, Suíça, Croácia, Sérvia, Estados Unidos e até Armênia têm representantes nos bancos de reservas mais cobiçados do Velho Continente (e, consequentemente, do planeta). Mas o Brasil, não.
E isso está longe de ser uma grande novidade. Ao longo dos últimos dez anos, somente três brasileiros treinaram clubes que fazem parte das competições nacionais do primeiro escalão europeu.
O jejum já dura sete anos. O último técnico do futebol pentacampeão mundial a dar as caras em uma das cinco ligas mais bem ranqueadas pela Uefa foi Leonardo, que dirigiu o Milan na temporada 2009/10 e a Inter de Milão entre dezembro de 2010 e junho de 2011.
Além do ex-jogador da seleção, apenas Luiz Felipe Scolari e Ricardo Gomes dirigiram equipes participantes dessas competições na última década.
Felipão comandou o Chelsea durante 36 partidas, na temporada 2008/09, logo após deixar a seleção portuguesa. Sua passagem pela Inglaterra ficou marcada por dificuldades de relacionamento com alguns dos jogadores mais importantes do clube, como Didier Drogba e Petr Cech.
Já Ricardo Gomes durou um pouco mais à frente do Monaco. O ex-zagueiro, que já havia treinado o Paris Saint-Germain e o Bordeaux, dirigiu a equipe do principado durante dois anos (de 2007 a 2009), em 85 apresentações.
Mesmo em Portugal, país que foi metrópole do Brasil, fala o mesmo idioma que nós e é porta de entrada para os jogadores daqui no futebol europeu, os técnicos da terra de Neymar, Ronaldo e Romário andam em baixa.
Pela segunda temporada consecutiva, nenhum treinador da primeira divisão lusitana é brasileiro. Os últimos a passar por lá foram Paulo César Gusmão e Fabiano Soares, que comandaram Marítimo e Estoril, respectivamente, em 2016.
A baixa atual contrasta com o cenário de algumas décadas atrás. Apesar de nunca ter sido um dos maiores polos exportadores de treinadores para os principais países da Europa, o Brasil costumava aparecer com mais frequência nesses bancos de reserva.
Na década de 1970, Otto Glória passou por Olympique de Marselha e Atlético de Madri, além dos três grandes de Portugal (Benfica, Sporting e Porto). Nos anos 1990, Carlos Alberto Parreira dirigiu o Valencia e Sebastião Lazaroni trabalhou na Fiorentina e no Bari.
Já depois da virada do século, Vanderlei Luxemburgo teve seu momento de honra ao comandar Zinédine Zidane, Luís Figo, David Beckham, Ronaldo Carlos e os outros "galácticos" do Real Madrid.
O "sumiço" dos técnicos brasileiros também vai contra o crescimento dos treinadores sul-americanos no cenário europeu. A Argentina, por exemplo, tem cinco técnicos trabalhando só na primeira divisão da Espanha e conta com dois dos grandes nomes da profissão na atualidade: Diego Simeone (Atlético de Madri) e Mauricio Pochettino (Tottenham).
O chileno Manuel Pellegrini, que já comandou Real Madrid e Manchester City, dirige o West Ham. E o uruguaio Gus Poyet é o treinador do Bordeaux.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.