Com ex-Barça e seleção de estrangeiros, Qatar vira sensação da Copa da Ásia
Almoez Ali é atacante, tem 22 anos e nasceu no Sudão, um dos países mais pobres do mundo, onde a renda per capita anual é inferior a US$ 5 mil e a expectativa de vida não chega nem a 65 anos.
Com apenas quatro temporadas como profissional, ele já é o artilheiro da Copa da Ásia-2019, com sete gols, e balançou mais as redes durante a primeira fase da competição que 21 das 24 seleções participantes.
Mas o que um jogador do nordeste da África está fazendo no principal torneio de seleções do futebol asiático? A resposta para essa pergunta tem cinco letras e uma quantidade de dinheiro praticamente infinitiva para investir no seu desenvolvimento da modalidade: Qatar.
Ali é o principal nome do projeto de naturalização em massa de atletas estrangeiros idealizado pelo país-sede da próxima Copa do Mundo para não fazer feio em 2022.
Faltando pouco menos de quatro anos para a realização do torneio, esse trabalho já começou a dar resultados.
Os qatarianos, que nunca foram além das quartas de final da Copa da Ásia, encerraram a fase de grupos da competição com a melhor campanha (100% de aproveitamento e vitórias sobre Arábia Saudita, Líbano e Coreia do Norte) e possuem o melhor ataque (10 gols) e a melhor defesa (nenhuma vez vazada) dentre todas as seleções.
A seleção é uma verdadeira legião estrangeira. Dirigida por um espanhol, Felix Sánchez, que trabalhou durante dez anos nas categorias de base do Barcelona e chegou a dirigir Lionel Messi, conta com jogadores nascidos em sete países diferentes.
Seu artilheiro é do Sudão. Um dos zagueiros (Ró-Ró) nasceu em Portugal. Ainda na defesa, há um iraquiano (Bassam Al-Rawi) e um francês (Karim Boudiaf). Completam o elenco um argelino (Boualem Khoukhi), dois egípcios (Ahmed Fatehi e Ahmed Alaaedin) e, evidentemente, os 16 qatarianos "da gema".
O projeto de buscar no exterior o talento esportivo que o país não consegue produzir não é exclusividade no futebol. Em 2015, quando recebeu o Mundial masculino de handebol, a seleção se sagrou vice-campeã com uma equipe formada basicamente por estrangeiros e que contava com algumas das maiores estrelas da modalidade no planeta, todas pinçadas na Europa.
Como o processo de naturalização no futebol é muito mais rígido e impede a "contratação" de astros como Messi e Cristiano Ronaldo, que já jogaram por outras seleções, o Qatar resolveu investir na captação de jovens talentosos espalhados pelo mundo para fortalecer sua equipe nacional.
Desde 2004, o país mantém uma academia chamada Aspire, que faz peneiras ao redor do mundo e leva para treinar no Oriente Médio garotos que são candidatos a futuros jogadores, principalmente de países mais carentes.
Oficialmente, o programa não visa formar atletas que aceitem uma naturalização para defender a seleção do Qatar. Mas, na prática, é isso que acontece. O artilheiro da Copa da Ásia, por exemplo, passou sete anos treinando na academia e chegou à Europa através do Eupen, clube belga que pertence à Aspire e serve para dar uma oportunidade às suas crias no Velho Continente.
Atualmente, Ali já não joga mais lá. O centroavante sensação da Ásia atua no Al-Duhail, atual bicampeão qatariano. Aliás, dos 23 jogadores do time árabe, só um joga no exterior: o meia Khaled Mohammed, do Cultural Leonesa, terceira divisão espanhola, que é outro time-escola da Aspire.
Até mesmo brasileiros já passaram pela "legião estrangeira" que é a seleção número um do torneio continental. O meia Rodrigo Tabata (ex-Santos) e o volante Luiz Júnior (que jogou no Unicilinic-CE) participaram das eliminatórias para o Mundial da Rússia-2018. O recém-aposentado Emerson Sheik também vestiu a camisa branca e grená no fim da década passada.
O Qatar joga nesta terça-feira sua classificação para as quartas de final da Copa da Ásia. Se derrotar o Iraque, em Al-Nahyan (Emirados Árabes Unidos), irá igualar as campanhas de 1980, 1984, 1988, 1992, 2000 e 2011, quando ficou entre os oito melhores.
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