Topo

Rafael Reis

Europa virou a "dona" da Copa do Mundo. E domínio pode estar só começando

Rafael Reis

08/07/2018 04h00

Pela quarta edição consecutiva, a Copa do Mundo terá uma seleção europeia como campeã. Pela segunda vez neste século, todos os quatro semifinalistas da competição são do Velho Continente.

Não é preciso mais que uma reflexão rápida para perceber que a Europa virou a "dona" do futebol mundial.

A má notícia para brasileiros, argentinos, uruguaios e torcedores de todos os outros continentes é que essa hegemonia não tem data para acabar. E é bem possível que ela aumente ainda mais nos próximos anos.

Quem diz isso não sou eu, mas sim os resultados das categorias de base. Ainda que revelar jogadores seja mais importante que levantar taças nos torneios para jovens, o que anda acontecendo nos Mundiais sub-17 e sub-20 diz muito sobre o futuro do futebol.

E o que anda acontecendo? A Europa, que até pouco tempo atrás era quase "café com leite" nessas competições e via sul-americanos e africanos nadarem de braçada, vem colecionando um título atrás do outro.

O exemplo mais expressivo é o do Mundial sub-20. O torneio, que teve apenas uma conquista europeia entre 1993 e 2011 (Espanha-1999), vem de três conquistas consecutivas de equipes do continente onde o futebol nasceu.

Em 2013, deu França (com Samuel Umtiti e Paul Pogba no elenco). Dois anos depois, foi a vez da Sérvia se sagrar campeã. E a última edição da competição para jovens de até 20 anos foi vencida pela Inglaterra.

A mesma Inglaterra que também é a atual campeã mundial sub-17. No ano passado, o English Team faturou a taça ao derrotar a Espanha na final. Foi a primeira decisão 100% europeia em 32 anos de história do torneio juvenil.

Ou seja, tudo leva a crer que essa fase de hegemonia do Velho Continente no futebol mundial, sobretudo na Copa, ainda terá alguns capítulos antes de chegar ao fim.

São vários os motivos que fizeram sul-americanos, africanos e asiáticos ficarem para trás na corrida contra os europeus. Mas o principal deles é, sem dúvida, o bom trabalho focado em planejamento e inteligência na formação de jogadores.

Enquanto países como Brasil e Argentina terceirizam a função de criar jovens atletas e deixam toda a responsabilidade desse processo na mão de clubes (cada qual com sua filosofia própria), muitos países europeus adotam filosofias unificadas no desenvolvimento dos seus candidatos a profissionais do futebol.

Responsável pela queda brasileira na Rússia-2018 e uma das semifinalistas da Copa, a Bélgica adota desde a década passada critérios únicos para a formação de jogadores em todo o país. Todos os clubes belgas usar nas categorias de base o mesmo esquema tático e processos semelhantes de treinamento.

O modelo já foi copiado por Alemanha e Inglaterra. A primeira, apesar da queda prematura nesta edição da Copa, é a atual campeã mundial. A segunda unificou os títulos sub-17 e sub-20 no ano passado.

Já a França, adversária dos belgas na semifinal, possui há 30 anos um centro de formação de jogadores mantido pela federação nacional. Clairefontaine recebe garotos talentosos de 12 a 15 anos que tenham potencial para vingar no futebol.

Parte considerável do elenco francês no Mundial da Rússia passou pelo centro. Pogba, Kylian Mbappé e Raphaël Varane são alguns dos titulares do técnico Didier Deschamps que treinaram por lá.


Mais de Seleções:

– Cheia de zebras, Copa tem quartas de final "mais fracas" em 24 anos
– Com queda alemã, Brasil assume liderança do ranking da Fifa; veja top 10
– Copa do placar magro caminha para recorde de 1 a 0
– Em busca do tetra, Europa tem melhor início de Copa em 20 anos

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.