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Rafael Reis

Atingido por FifaGate, time mais brasileiro da Europa caminha para descenso

Rafael Reis

24/12/2017 04h00

O time mais brasileiro da Europa só venceu uma partida oficial nos últimos quatro meses e caminha a passos largos para o rebaixamento.

Com 15 das 34 rodadas da temporada 2017/18 da primeira divisão portuguesa já disputadas, o Estoril Praia é o vice-lanterna, o time que mais perdeu (dez jogos) e também o dono do segundo ataque menos eficiente e da segunda defesa mais vazada da competição.

O maior representante do futebol brasileiro no Velho Continente conta com 12 jogadores nascidos no país pentacampeão mundial. E vários deles são bastante conhecidos por aqui, como o zagueiro Lucão e o meia Lucas Evangelista (ex-São Paulo), o atacante Victor Andrade (cria do Santos) e o centroavante Kléber (que passou pelo Palmeiras).

Mas o que faz do Estoril um pedacinho do Brasil em Portugal nem é o seu elenco repleto de pé de obra verde e amarela, mas sim a origem do seu dinheiro.

Desde 2009, o clube da região de Cascais tem como acionista majoritário a Traffic, gigante do marketing esportivo que fez sucesso no Brasil durante as décadas de 1990 e 2000 e que tem como proprietário J. Hawilla, réu confesso em processos de corrupção no futebol brasileiro e latino-americano.

A empresa adquiriu no final da década passada o Estoril, que então militava na segunda divisão e sofria para pagar suas contas, com o objetivo de fazer dele um portão de entrada para seus jogadores no futebol europeu.

O projeto deu tão certo que catapultou o clube a lugares jamais atingidos. Em 2013/14, o time foi quarto colocado no Português, ficou atrás apenas de Benfica, Porto e Sporting, ganhou rótulo de sensação do campeonato e conseguiu a classificação para a Liga Europa.

Além disso, o clube conseguiu transferir alguns jogadores da Traffic para times de um escalão superior, como Bruno César (Sporting), Diego Carlos (Nantes) e Evandro (Porto e atualmente no Hull City). O Estoril também revelou os técnicos Marco Silva (Watford) e Fabiano Soares, que treinou o Atlético-PR no último brasileiro.

O projeto caminhava sem grandes percalços até a eclosão nos EUA do maior escândalo de corrupção da história do futebol mundial. O caso, que atingiu três presidentes da CBF (Ricardo Teixeira, José Maria Martin e Marco Polo del Nero) e derrubou toda a cúpula da Conmebol, mudou a história do Estoril.

Em 2015, Hawilla, o dono da Traffic e consequentemente do clube português, assinou um acordo de delação premiada nos EUA, admitiu participação nos crimes de extorsão e fraude eletrônica. Além disso, teve de pagar uma multa de US$ 151 milhões (mais de R$ 500 milhões).

Desde então, a empresa vem reduzindo suas operações. E o clube português sentiu na pele isso. Depois da quarta colocação em 2014, ele só conseguiu terminar um campeonato na metade de cima da tabela (foi oitavo em 2016) e foi perdendo desempenho.

Na atual temporada, só venceu três dos 17 jogos que disputou (por todas as competições) e sequer balançou as redes entre 23 de setembro e 4 de dezembro. Por isso, vive um namoro bem avançado com o rebaixamento.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.