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Rafael Reis

Sucesso de Jorge Jesus prepara terreno para técnico estrangeiro na seleção

Rafael Reis

18/10/2019 04h20

Dezesseis vitórias, seis empates e duas derrotas. Quarenta e oito gols marcados e 19 sofridos. Liderança folgada do Campeonato Brasileiro e vaga nas semifinais da Copa Libertadores da América.

Os resultados de Jorge Jesus em seus primeiros três meses no comando do Flamengo são inquestionáveis. O futebol praticado dentro de campo também.

Crédito: Gabriel Machado/Agif

Há tempos, o Brasil não via um time jogando de uma forma tão alinhada com o que vem sendo praticado pelos clubes mais poderosos do planeta na atualidade e exercendo completos domínios territorial, técnico e tático sobre a maior parte dos seus adversários.

O torcedor brasileiro, mesmo aquele não nutre de carinho pelo Fla, está apaixonado pelo técnico português… ou melhor, pela ideia de ver treinadores estrangeiros trabalhando por aqui.

Palmeiras, São Paulo, Cruzeiro, Internacional e todos os clubes nacionais importantes que trocaram de comando nos últimos meses viram suas redes sociais ficarem infestadas de pedidos para que eles não contratassem "mais do menos" e arriscassem com gringos.

Não será nenhuma surpresa se, no Brasileirão do próximo ano, 40% ou 50% dos times da primeira divisão estiverem nas mãos de técnicos nascidos em outros países.

Só que essa euforia em torno do trabalho de Jorge Jesus não atinge apenas o cenário do futebol de clubes. Ela vai além e coloca em risco um grande dogma: a ideia de que a seleção brasileira precisa ser necessariamente dirigida por alguém nascido no país.

Qualquer um que tenha acompanhado os recentes amistosos contra Senegal e Nigéria (dois empates por 1 a 1) com um olho nas redes sociais deve ter visto muita gente detonar Tite pelas exibições bem desinteressantes da equipe canarinho e dar como solução para esse problema a contratação de um treinador estrangeiro.

O movimento não é propriamente novo. Há alguns anos, houve um lobby para que a CBF investisse pesado para ter Pep Guardiola no banco de reservas da seleção. Mas naquela época essa ideia era exclusiva de jornalistas e de alguns poucos torcedores mais focados no futebol europeu.

Agora, com um português brilhando à frente do clube de maior torcida do Brasil, a campanha para ver um gringo no comando da seleção ganhou proporção muito maior. Ela deixou de ser algo que apenas alguns abraçavam para virar algo extremamente popular.

E aí, nem vem ao caso se os técnicos estrangeiros realmente são melhores que os brasileiros (pelo menos na média, eles realmente parecem mais bem preparados). Mas os torcedores têm certeza que os gringos estão passos à frente dos nacionais e vão cobrar as diretorias dos seus clubes e da CBF para atenderem esse desejo.

Então, Tite, é bom você tratar de abrir os olhos, atualizar alguns dos seus conceitos e resgatar rapidamente o bom futebol da seleção. Afinal, agora já é possível dizer que o mundo inteiro pode roubar o seu cargo.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.