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Rafael Reis

Aprenda, Neymar: não existe "carregar time nas costas" no futebol moderno

Rafael Reis

11/10/2019 04h20

Melhor time das duas últimas edições do melhor campeonato nacional do mundo, a Premier League, o Manchester City foi incapaz de emplacar algum dos seus jogadores entre os sete primeiros colocados dos prêmios de craque máximo do planeta.

O Liverpool, atual campeão europeu e time sensação deste início de temporada, até colocou Mohamed Salah (2018) e Virgil van Dijk (2019) no pódio da eleição da Fifa. Mas até hoje ninguém consegue precisar qual dos dois é o protagonista da equipe… ou mesmo se esse posto não pertence a Sadio Mané ou Roberto Firmino.

Crédito: Roslan Rahman/AFP

Os dois casos acima deveriam ser acompanhados com mais atenção por Neymar. Talvez assim, ele parasse dizer baboseiras como a ideia de que sempre carregou a seleção brasileira nas costas.

No futebol contemporâneo, dominado pelo jogo coletivo e normalmente vencido por quem melhor desempenha os papéis táticos determinados pelos treinadores, a dependência explícita de uma única individualidade já não existe…. pelo menos, não em equipes vitoriosas.

Um outro grande exemplo vem de um projeto do qual Neymar, inclusive, já fez parte.

Lionel Messi só conseguiu conquistar quatro títulos da Liga dos Campeões da Europa pelo Barcelona quando tinha ao seu lado outros astros de primeira grandeza, como o próprio brasileiro, Ronaldinho Gaúcho, Xavi e Andrés Iniesta, além de uma estrutura tática que beirava a perfeição.

Conforme as estrelas foram deixando o Camp Nou e o jogo coletivo culé foi se deteriorando, o sonho de vencer novamente a Champions foi dando lugar às decepções anuais provocadas pelas eliminações no torneio.

Títulos agora, só mesmo no Campeonato Espanhol, onde o nível coletivo que o Barça consegue atingir semanalmente (graças também a Messi, claro) é suficiente para derrotar adversários que, em média, possuem nível técnico inferior.

Se o maior jogador de sua geração e o único homem eleito seis vezes como melhor do mundo é incapaz de ganhar uma Champions ou uma Copa do Mundo carregando seu time/seleção nas costas, imagine os outros…

Esse é aquele momento em que alguém pode falar que Cristiano Ronaldo "ganhou a sozinho" a Eurocopa de 2016 e talvez até o tri da Liga dos Campeões entre 2016 e 2018. Por favor, não forcem a barra.

A seleção portuguesa foi campeã europeia porque construiu um sistema defensivo para lá de sólido e tinha no ataque um grande jogador que não precisava de muitas oportunidades para balançar as redes.

Já o Real Madrid construiu uma hegemonia continental por ter uma camisa pesadíssima, investimento de peso, vários jogadores de mentalidade vencedora e um meio-campo que, durante esse período, beirava a perfeição. Tudo isso a serviço de CR7.

Se a equipe espanhola desandou depois da saída do seu astro foi porque aquela estrutura que deu liga durante tanto tempo foi se desgastando e já não funciona mais. No Real de hoje, Ronaldo também não faria milagre. Pelo menos, não frequentemente.

Neymar pode até acreditar que ganhar algumas partidas seja carregar um time nas costas. Isso ele até fez pela seleção brasileira, assim como vários dos seus companheiros que vestem a camisa amarela e até alguns pernas de pau ao longo da história.

Mas o sucesso de uma equipe é um feito necessariamente coletivo. E, enquanto não aprender isso, o brasileiro continuará sendo um talento gigantesco desperdiçado por palavras e ações que só despertam a antipatia dos torcedores.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.