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A história do holandês que jogou Mundial de óculos, fez gol e virou canção

Rafael Reis

15/12/2019 04h00

Dos 161 jogadores que estão na disputa do Mundial de Clubes no Qatar, alguns certamente possuem algum tipo de problema de visão e fazem uso cotidiano de lentes para enxergar melhor.

Mas nenhum deles fará o mesmo que Joop van Daele. Em 1970, o zagueiro holandês do Feyenoord foi a campo na Copa Intercontinental (embrião do que é hoje o torneio da Fifa) usando óculos, fez o gol do título, teve o acessório roubado por adversários. E virou música.

Crédito: Reprodução

Tudo isso aconteceu no segundo jogo da decisão (ainda em formato de ida e volta, antes da definição do Japão como sede neutra para o jogo único) entre o então campeão europeu e o Estudiantes (ARG), que havia faturado a Libertadores.

Na primeira partida, disputada na Argentina, houve empate por 2 a 2, mas Van Daele não saiu do banco.

Os dois times voltaram a se encontrar no dia 9 de setembro de 1970, desta vez em Roterdã. O zagueiro míope começou outra vez na reserva. Aos 15 minutos do segundo tempo, entrou no lugar de um atacante. Dois minutos depois, fez o gol que valeu a taça.

Revoltados, os argentinos saíram em disparada em direção ao árbitro peruano Alberto Tejada Burga e alegaram que o gol tinha de ser anulado porque o uso de óculos dentro de campo era ilegal. O juiz ignorou a argumentação e validou o lance.

Os jogadores do Estudiantes, então, apelaram. Oscar Malbernat chegou junto em Van Daele e simplesmente arrancou o utensílio do seu rosto. O que se viu a partir daí foi uma cena digna de pastelão: os óculos do holandês começaram a passar de mãos em mãos enquanto ele corria de um lado para o outro tentando recuperá-los.

O meia Carlos Pachamé deu uma solução definitiva para o caso. Quando os óculos chegaram à sua posse, ele tratou de quebrá-los ao meio, impossibilitando seu uso.

Van Daele ainda tentou consertar o acessório, mas não deu. Como não tinha lentes reservas à disposição, precisou encarar a meia hora restante da partida com a visão seriamente debilitada.

Mas, no fim, tudo deu certo para o zagueiro. O Feyenoord venceu por 1 a 0 e conquistou o primeiro (e até hoje único) título mundial de sua história.

Crédito: Reprodução

A epopeia do defensor holandês virou a música "Waar is de bril van Joop van Daele" ("Onde estão os óculos de Joop van Daele", em tradução livre para o português), gravada pelo cantor Johnny Hoes. E as lentes quebradas do Intercontinental estão até hoje no museu do clube.

Jogadores de óculos se tornaram ainda menos comuns depois da popularização das lentes de contato.

Possivelmente, o último caso relevante de atleta que precisou recorrer a esse utensílio durante a prática do futebol tenha sido o de outro holandês, o ex-meia Edgard Davids, entre as décadas de 1990 e 2000, que tinha de jogar usando um acessório especial para glaucoma.

Mas, diferente dos óculos de Van Daele, que eram bastante comuns, daqueles que podem ser comprados em qualquer ótica, os de Davids ficavam mais presos em sua cabeça e eram feitos com uma lente especial que suportava o contato com a bola.

O Mundial de Clubes-2019 termina no próximo sábado e terá a final disputada no estádio Nacional, em Doha. Os favoritos Flamengo e Liverpool ainda não estrearam –os brasileiros jogam na terça-feira contra o Al-Hilal, da Arábia Saudita, e os ingleses, na quarta, ante o Monterrey, do México.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.


Rafael Reis