"Não vai mudar nada", diz brasileiro da Bulgária sobre punição por racismo
Rafael Reis
13/11/2019 04h00
Exatamente um mês após a explosão de ofensas racistas vistas na partida contra a Inglaterra, a seleção da Bulgária volta a campo amanhã, em amistoso contra o Paraguai, com um novo treinador, uma comissão técnica recém-empossada e outros dirigentes à frente da seleção.
Os insultos vistos na goleada por 6 a 0 aplicada pelos ingleses contra jogadores negros, casos do zagueiro Tyrone Mings e do atacante Raheem Sterling, provocaram as quedas do presidente da federação nacional de futebol, Borislav Mihaylov, e também do técnico Krasimir Balakov.
Sinal de novos tempos no combate ao preconceito racial nos gramados da Bulgária? Não é o que pensa o meia-atacante Wanderson, ex-Portuguesa, que desde de setembro faz parte do elenco da seleção europeia.
"Esses torcedores búlgaros não estão nem aí com nada. Eles cometem racismo e fica tudo por isso mesmo, como se nada tivesse acontecido. Essa é uma situação muito triste. Infelizmente, não vai mudar nada. Já faz tanto tempo que isso acontece. Se fosse para mudar, já teria mudado", afirma.
De acordo com o jogador paranaense, que atuou na Lusa de 2013 a 2014 e está em sua sexta temporada pelo Ludogorets, clube mais forte da Bulgária, essa não foi a primeira vez que ele presenciou ofensas racistas nos estádios do país.
"Comigo, nunca aconteceu. Eles não têm costume de ofender alguém por ter nascido em outro país [xenofobia]. Mas o Cicinho [ex-Santos], que joga comigo no Ludogorets, já foi alvo de racismo vindo da torcida adversária."
Wanderson estava no gramado do estádio Vasil Levski, em Sofia, no dia 14 de outubro, quando o jogo que precisou ser paralisado duas vezes em virtudes de cantos racistas contra jogadores ingleses. O árbitro chegou a ir pessoalmente ao alambrado para conversar com torcedores e pedir que os cantos e xingamentos parassem.
Imagens de TV também mostraram apoiadores da Bulgária fazendo saudações nazistas e ironizando as campanhas feitas pela Uefa pelo fim da descriminação racial no futebol.
Além das mudanças no comando da federação e da seleção, os búlgaros foram multados em 75 mil euros (R$ 343 mil) e terão de disputar a partida contra a República Tcheca, no dia 17, pela última rodada das eliminatórias, com portões fechados.
"Foi pouco, mas tem sido pouco em todos os lugares, não só na Bulgária. As punições precisam ser maiores. Isso está acontecendo no mundo inteiro. É uma situação muito triste", completa.
Quanto a Wanderson, ele continua a serviço da Bulgária e foi convocado normalmente para os jogos contra Paraguai e República Tcheca, nesta Data Fifa. "Não pensei em abandonar a seleção. Respeito demais a Bulgária e a maior parte dos torcedores que é de bem e respeita o próximo. Os racistas são minoria".
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
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Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.