Ídolo no River, brasileiro defendeu a Argentina e foi demitido por nazista
Rafael Reis
30/09/2019 04h00
Quem olhar as escalações do River Plate na década de 1930, um dos períodos mais vitoriosos da história do clube, e até mesmo a lista de jogadores da seleção argentina em algumas partidas daquela época certamente irá se deparar com Aarón Wergifker.
O sobrenome deixa claro que um dos 100 maiores ídolos do atual campeão da Libertadores, de acordo com eleição realizada em 2010 pela tradicional revista "El Gráfico", não tem origem argentina.
O que surpreende é o local de nascimento do ex-lateral esquerdo: São Paulo. Sim, é isso mesmo: um dos grandes da história do River é brasileiro e, apesar de toda a rivalidade entre seus países, defendeu a seleção albiceleste.
Tudo bem que a brasilidade de Wergifker não ia muito além da sua certidão de nascimento. O jogador era filho de judeus que moravam na Rússia e estavam fugindo rumo à Argentina de uma Europa que entrava na Primeira Guerra Mundial.
A escala no Brasil foi uma necessidade do caminho para Buenos Aires. O futuro lateral nasceu em 15 de agosto de 1914. Dias depois do parto, sua família deu sequência à viagem ao país onde se estabeleceria.
A origem, no entanto, foi responsável por um dos dois apelidos pelos quais ficou conhecido no meio do futebol: Brazuca. O outro, Pérez, foi a solução encontrada por seus companheiros de time para não precisarem pronunciar Wergifker.
Mas o sobrenome lhe trouxe muito mais problemas do que essa mera e inofensiva questão de pronúncia.
A versão mais difundida de sua saída do River, em 1941, após nove anos dedicados aos Millonarios, com direito a 203 partidas oficias e cinco títulos argentinos, é um caso explícito do racismo contra os judeus na época da Segunda Guerra Mundial.
A demissão de Wergifker teria sido provocada por laudo assinado por um médico nazista que trabalhava no clube. Para se livrar do jogador da raça que tanto odiava, o seguidor de Hitler inventou que ele sofria de uma insuficiência pulmonar.
A história jamais foi confirmada, mas também nunca foi negada. Fato é que o zagueiro nascido em São Paulo que jogou cinco vezes pela seleção argentina nunca teve problemas respiratórios, ainda jogou por mais cinco anos em equipes menores, como o Platense, e só morreu em 1994, prestes a se tornar octogenário.
O River Plate inicia amanhã a reedição da final da Libertadores do ano passado. Desta vez, o clássico contra o Boca Juniors vale vaga na decisão do torneio continental. O outro finalista sairá do cruzamento entre Flamengo e Grêmio, que fazem na quarta-feira o primeiro jogo da semifinal brasileira.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
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Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.