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Como a China planeja virar um "Brasil B" para voltar à Copa do Mundo

Rafael Reis

30/08/2019 04h00

Convocar o atacante Elkeson, ex-Vitória e Botafogo, para o amistoso contra Mianmar, hoje (30), e a partida contra as Maldivas, pela primeira rodada da fase de grupos das eliminatórias asiáticas para a Copa do Mundo, foi só o pontapé inicial de um audacioso projeto da China.

Para voltar a disputar um Mundial depois de 20 anos e ir ao Qatar em 2022, o país mais populoso do planeta planeja transformar sua seleção em uma espécie de "time B" do Brasil.

Crédito: Getty Images

Além de Elkeson, que defende o Guangzhou Evergrande e foi rebatizado como Ai Kesen, outros quatro jogadores brasileiros estão com processos de naturalização em andamento e devem aparecer em futuras convocações chinesas.

Curiosamente, todos são atacantes: Alan, ex-Fluminense, do Tianjin Tianhai; Aloísio, ex-São Paulo, do Guangdog Tigers, Fernadinho, ex-Flamengo, do Hebei Fortune, e Ricardo Goulart, ex-Cruzeiro e Palmeiras, um dos astros do Guangzhou Evergrande.

O quarteto está proibido de falar sobre o tema com a imprensa. De acordo com um fonte ligada ao futebol asiático, todos serão recompensados financeiramente pela decisão de abdicarem da cidadania brasileira para defender a China. O valor, no entanto, varia de atleta para atleta.

Para poder se naturalizar chinês, mesmo sem raízes familiares, e atuar pela seleção do gigante oriental, o jogador precisa viver no país durante cinco anos consecutivos e não ter ficado mais que um semestre em outra nação.

Elkeson joga na China desde 2013, foi três vezes campeão nacional e ganhou dois prêmios de artilheiro da primeira divisão. Fernandinho e Aloísio chegaram ao país no começo do ano seguinte e também já completaram o período necessário para poderem se naturalizar.

Alan desembarcou na Ásia em 2015 e só poderá obter a nova cidadania a partir de janeiro. Esse também é o caso de Ricardo Goulart, que ficou no Palmeiras durante cinco meses neste ano, período insuficiente para que sua "conta" de permanência na China fosse zerada.

A opção de naturalizar o maior número de jogadores estrangeiros possíveis para assim aumentar o nível técnico dos convocáveis é um pedido particular do técnico Marcello Lippi, campeão mundial com a Itália em 2006.

O treinador dirige a China há três anos e já conseguiu levar para a seleção o volante Nico Yennaris, do Beijing Guoan, que é descendente de chineses, mas nasceu na Inglaterra e chegou a disputar quarto partidas pelo time principal do Arsenal.

Até hoje, a China só disputou uma edição da Copa do Mundo. Em 2002, caiu no mesmo grupo de Brasil, Turquia e Costa Rica, perdeu todos os jogos que fez e se despediu da competição sem marcar nenhuma vez, tendo sofrido nove gols.

O plano do presidente Xi Jinping, entusiasta da modalidade, é ainda mais ambicioso. Ele não só quer que o país volte a disputar um Mundial como acredita que é possível virar uma potência global e conquistar o título mais desejado do planeta até 2050.

A meta inicial é colocar 50 milhões de chineses para jogar bola até o ano que vem e distribuir pelo menos 50 mil escolinhas e 70 mil campos de futebol pelo país para criar uma nova geração de jogadores capazes de alavancar a seleção local rumo a voos mais altos.

O projeto, desenvolvido em parceria com a Nike, conta inclusive com a participação de treinadores brasileiros, que são pagos para melhorar o nível dos jogadores e também dos técnicos locais.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.


Rafael Reis