Por que o Campeonato Argentino tem apenas 1 jogador brasileiro?
Rafael Reis
25/03/2019 04h00
Carlos Tevez, Javier Mascherano, Darío Conca, Pablo Guiñazú, Andrés D'Alessandro, Lucas Pratto, Hernán Barcos, Walter Kannemann. A lista de jogadores argentinos que passaram pelo futebol brasileiro e fizeram sucesso por aqui é bastante farta.
Atualmente, nada menos que 16 compatriotas de Lionel Messi estão espalhados pelos elencos dos 20 clubes que vão disputar a partir do fim do próximo mês o título mais importante do futebol pentacampeão mundial.
Mas se o mercado para atletas argentinos no Brasil é dos mais intensos, o mesmo não pode se dizer do fluxo contrário. Encontrar um "jogador verde e amarelo" vestindo a camisa de clube dos nossos hermanos é das tarefas mais difíceis.
Dos quase 800 jogadores inscritos na atual edição do Campeonato Argentino, somente um é brasileiro: o zagueiro Tiago Pagnussat, ex-Atlético-MG, que está emprestado pelo Bahia ao Lanús.
A situação é das mais recorrentes. Na temporada passada, o Brasil foi representado apenas pelo atacante Mosquito, que disputou oito jogos pelo Arsenal de Sarandí. Nos três anos anteriores, a participação brazuca na elite argentina ficou no zero.
"Acho que a questão principal é a língua. Como somos os únicos sul-americanos que não falam espanhol, os diretores daqui costumam dar preferência para os jogadores colombianos, equatorianos, uruguaios", analisa Pagnussat.
O zagueiro também encontra uma outra explicação para o fato de os clubes da Argentina raramente olharem para o futebol brasileiro na hora de buscar reforços para os seus elencos: o estilo de jogo.
"O futebol praticado aqui tem muito mais contato, é muito mais físico. Acaba sendo bem diferente do jogado no Brasil."
A ausência de compatriotas atuando no futebol argentino fez com que Pagnussat pensasse duas vezes antes de aceitar a proposta de empréstimo até maio de 2020 feita pelo Lanús em janeiro. Hoje, ele não se arrepende da escolha.
"Posso falar que me surpreendi com a recepção que tive. Confesso que os jogadores argentinos aí no Brasil não costumam ser tão bem tratados quanto estou sendo aqui. Não senti nenhuma diferença ou preconceito por ser brasileiro."
Em um passado mais distante, os jogadores brasileiros costumavam ter um espaço maior no futebol da Argentina. Nomes conhecidos como Domingos da Guia, Heleno de Freitas e Paulo Valentim jogaram no Boca Juniors no século passado.
Já na década passada, o Boca teve o lateral direito e volante Baiano (ex-Palmeiras e Santos), o atacante Iarley (ex-Paysandu e Internacional) e o zagueiro Luiz Alberto (ex-Flamengo).
Os brasileiros sumiram da Argentina depois do crescimento do abismo financeiro existente entre o futebol dos dois países. Ou seja, além dos motivos apontados por Pagnussat, o dinheiro também ajuda a explicar por que o comércio entre os dois países virou de mão única.
Dos dez elencos mais caros da Libertadores-2019, sete são brasileiros e só três, argentinos.
Na terra de Messi e Maradona, os jogadores com salários que chegam aos US$ 100 mil mensais (R$ 384 mil): Fernando Gago e Tevez, no Boca, Pratto e Enzo Pérez, no River. Já no Brasil, essa cifra é banal para os maiores clubes do país e há atletas com rendimentos equivalentes a US$ 260 mil (R$ 1 milhão).
No ano passado, o estudo Global Sports Salary Survey, produzido pela Sportingintelligence, colocou o Brasileiro como o nono campeonato nacional de maior média salarial (R$ 2,5 milhões anuais por jogador). A Argentina ficou na 14ª colocação, com R$ 1,4 milhões de média salarial.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.