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Rafael Reis

Com R$ 100 mil mensais para desconhecidos, Tailândia tem invasão brasileira

Rafael Reis

16/03/2019 04h00

"Eu estava com minha mãe quando recebi uma mensagem de um empresário perguntando se eu tinha interesse de jogar na terceirona tailandesa. O salário que eles ofereciam era o triplo do que eu ganhava na época no São Bento [time de Sorocaba que está na elite do futebol paulista]. No começo, achei que era trote."

O relato do zagueiro Victor Cardozo, do PTT Rayong, recém-promovido para a primeira divisão, mostra o motivo pelo qual a Tailândia se transformou em um paraíso para os jogadores brasileiros, principalmente para aqueles que são pouco conhecidos por aqui e não têm a oportunidade de defender os clubes mais importantes de sua terra natal.

Crédito: Divulgação/Heberty

Atualmente, 63 brasileiros estão espalhados pelos diferentes níveis do futebol tailandês. O número é bem maior do que o da presença nacional na China (39), na Coreia do Sul (33) e nos Emirados Árabes (30), mercados asiáticos que são muito mais conhecidos por aqui.

O salário médio dos estrangeiros que atuam na primeira divisão da Tailândia costuma girar entre US$ 20 mil e US$ 25 mil mensais (quase R$ 100 mil), não muito diferente da elite do Brasil. Mas há quem ganhe bem mais e chegue a faturar R$ 500 mil a cada 30 dias.

É muito dinheiro… especialmente para atletas que estavam distantes dos Palmeiras, Flamengo e Grêmio da vida, e que muitas vezes sequer sabiam quando receberiam seu próximo salário.

"Eu estava há três meses sem receber no Guarani quando vim para cá. É claro que fiquei com um receio quando fui convidado para jogar na Tailândia, mas meu salário aqui quadruplicou. Estou aqui há quatro anos, e nunca atrasaram meu pagamento em mais de cinco dias. Os dirigentes tailandeses agem corretamente. É muito diferente do Brasil", afirma o atacante Dennis Murillo, do Nongbua.

"A Tailândia gosta muito dos brasileiros, tem um povo um pouco parecido com o nosso. Por isso e pela questão financeira, virou uma opção muito agradável para nós. O Brasil é um país muito fechado para esses jogadores que não tiveram a oportunidade de jogar em uma grande equipe", adiciona Victor Cardozo, que, além do São Bento, jogou em times menores do Rio Grande do Sul, da Paraíba, do Paraná e do Rio de Janeiro.

Mas se os tailandeses continuam investindo pesado nos representantes do futebol pentacampeão mundial é porque, dentro de campo, eles têm correspondido às expectativas.

Das cinco últimas edições da Thai League, a primeira divisão local, quatro terminaram com brasileiros no topo da tabela de artilheiros. Diogo (ex-Portuguesa, Palmeiras e Santos) ganhou o prêmio em 2015 e 2018, Cleiton Silva faturou o troféu em 2017 e Heberty, em 2014.

Heberty, aliás, é um dos grandes nomes da história do futebol da Tailândia. Atacante com passagem por Juventus, São Caetano e Paulista, ele está na Ásia em 2012. Passou pelo Japão e pela Arábia Saudita, campeonatos maiores que o Tailandês na hierarquia continental, mas preferiu ficar "em casa" e hoje é a estrela do Muangthong United, quarto colocado na última temporada.

"Quando cheguei aqui, achei estranho ver elefantes andando pela rua. A estrutura também era diferente. A gente treinava em um campo com pessoas normais correndo na pista de atletismo. Mas tudo está mudando. Gosto muito de morar aqui. Até gostaria de voltar ao Brasil. Mas, com o salário que ganho, é meio difícil que isso aconteça."


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.