Acerto, Liga das Nações ignora ressaca pós-Copa e "pega de primeira"
Rafael Reis
21/11/2018 04h20
O gol de Harry Kane, que definiu a virada sobre a Croácia e classificou a Inglaterra para a fase final, foi comemorado como se valesse um título. O de Virgil van Dijk, já nos acréscimos do empate com a Alemanha, que fez a Holanda eliminar os dois últimos campeões mundiais, também.
Principal novidade do calendário do futebol internacional na temporada 2018/19, a Liga das Nações da Europa teve efeito imediato. Logo na sua primeira edição, já caiu nas graças do torcedor e dos jogadores do Velho Continente.
Para ser honesto, a ideia era tão boa que dificilmente daria errado. As 12 seleções mais bem ranqueadas da Uefa divididas em quatro grupos com três equipes, com cada um deles distribuindo uma vaga para a etapa decisiva.
O risco da fórmula era que a ressaca da recém-encerrada Copa do Mundo e a falta de costume com a competição interferissem na motivação dos atletas e fizessem dos jogos da Liga das Nações algo tão modorrento e arrastado quanto os amistosos que as seleções costumam disputar nas Datas Fifa.
Mas não foi o que aconteceu. O jovem torneio europeu foi tratado com seriedade e teve algumas partidas memoráveis. A vitória por 3 a 2 da Croácia sobre a Espanha, na semana passada, teve nível técnico e dramaticidade dignos de um mata-mata de Mundial ou Eurocopa.
As surpresas também ajudaram a empolgar o torcedor. Quem poderia imaginar que a Holanda, após quatro anos acumulando vexame, conseguiria deixar para trás França e Alemanha, as últimas vencedoras da Copa? Ou que Croácia e Bélgica, duas sensações da Rússia-2018, seriam goleadas por Espanha (6 a 0) e Suíça (5 a 2), respectivamente?
E houve ainda o rebaixamento da seleção alemã, que se despediu da fase de grupos sem conseguir ao menos uma mísera vitória (dois empates e duas derrotas), além do avanço de Portugal, mesmo no meio das férias tiradas por Cristiano Ronaldo.
Nas divisões inferiores, países que raramente têm a oportunidade de vencer uma partida oficial encontraram adversários de nível semelhante e conseguiram sair da seca. Liechtenstein, Gibraltar, Ilhas Faröe e Luxemburgo estão entre as equipes pouco expressivas que puderam comemorar ao menos um trunfo.
Por tudo isso, a competição pegou logo de cara. E, além de ser interessante para o público e para os torcedores, ela pode ajudar as seleções europeias a se desgarrarem ainda mais das equipes dos outros países.
Afinal, enquanto Brasil, Argentina e Uruguai gastam tempo em amistosos pouco competitivos (mesmo quando enfrentam adversários da primeira linha), os times do Velho Continente estão em campo em jogos valendo três pontos e contra rivais que exigem que eles atuem no mais alto nível.
A fase final da Liga das Nações será disputada por Holanda, Suíça, Inglaterra e Portugal entre os dias 5 e 9 de junho do próximo ano. A Uefa deve confirmar Portugal como país-sede da fase final no começo de dezembro.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
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Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.