Contra vontade de torcida, clube de Israel vai contratar jogadores árabes
Rafael Reis
07/09/2018 04h20
O novo proprietário do Beitar Jerusalém, Moshe Hogeg, resolveu comprar briga com os movimentos de extrema-direita ligados às torcidas organizadas do clube que o fizeram ser conhecido com o time de futebol mais fundamentalista de Israel.
O empresário de 39 anos, ligado ao mercado de criptomoedas, anunciou na semana passada que pretende derrubar o veto-informal que existe à presença de jogadores árabes na equipe.
Segundo Hogeg, a equipe deve acertar em breve, nas próximas janelas de transferência, a contratação do primeiro atleta de origem árabe dos seus 82 anos de existência.
"O Beitar não é um clube racista. A partir de agora, a religião não será mais um critério de escolha para o elenco. Também não contrataremos um jogador só por ser árabe, já que isso também seria uma forma de racismo".
A tentativa de Hogeg não é a primeira de tornar o clube menos intolerante e aberto para atletas de etnias e religiões que possuam uma história de conflitos com os judeus.
Em 2005, o zagueiro nigeriano Ndala Ibrahim, que é muçulmano, chegou a disputar quatro partidas pelo Beitar, mas decidiu voltar para seu país depois de ser atacado por torcedores extremistas.
Algo ainda mais grave aconteceu em 2013, quando alguns reagiram à contratação de dois jogadores de origem chechena e religião islâmica com manifestações racistas durante treinos e jogos, invasão e quebra-quebra na sede do clube e até ameaças de morte aos dirigentes responsáveis pelo negócio.
Neste ano, antes de ser comprado por Hogeg, o clube chegou a anunciar a intenção de mudar seu nome para Beitar Trump Jersualém com intuito de homenagear o presidente dos Estados Unidos pela decisão de reconhecer Jerusalém como capital de Israel.
Ligado ao movimento sionista e com torcedores que costumam entoar nas arquibancadas cantos de ódio contra os árabes, o Beitar (seis vezes campeão nacional) é o único clube importante de Israel que nunca teve um jogador dessa etnia no elenco.
Os árabes representam cerca de 20% da população do país. Um dos principais jogadores da seleção na atualidade, o lateral esquerdo Taleb Tawatha, do Eintracht Frankfurt, possui origem árabe.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.