Nacionais da Europa ficaram tão chatos quanto os Estaduais brasileiros
Rafael Reis
11/05/2018 04h00
A Juventus precisa de apenas um empate contra a Roma, no domingo, para sacramentar, com uma rodada de antecedência, o sétimo título italiano consecutivo.
O Bayern faturou o Campeonato Alemão pelo sexto ano seguido há mais de um mês. Manchester City e Paris Saint-Germain conquistaram seus títulos nacionais há 25 dias. Barcelona e Porto também já levantaram os canecos das ligas espanhola e portuguesa, respectivamente.
Isso significa que nenhum dos seis principais campeonatos nacionais da Europa deve chegar à rodada final com a disputa pelo título ainda indefinida. E, para piorar, todos eles tiveram (ou terão) campeões bastante previsíveis.
É essa a realidade que transformou as mais importantes ligas nacionais do Velho Continentes em versões endinheiradas dos nossos velhos Campeonatos Estaduais: competições chatas, arrastadas e com pouco espaço para as surpresas.
Tudo bem que vez ou outra surge um Leicester (campeão inglês de 2014/15) ou um Monaco (vitorioso na França em 2016/17). Mas são exceções cada vez mais raras que comprovam a regra da monotonia que reina nesses torneios.
Uma simples análise histórica mostra como os grandes campeonatos europeus têm ficado menos suscetíveis a zebras.
Entre 1999 e 2008, o Campeonato Espanhol teve quatro campeões (Barcelona, Real Madrid, Valencia e La Coruña) e oito times diferentes ocupando as três primeiras posições de uma determinada temporada.
Nos últimos dez anos, foram apenas três campeões (Barcelona, Real Madrid e Atlético de Madri), sendo que o Barça faturou sete títulos. O número de equipes que subiram ao pódio caiu para cinco. E nas últimas cinco temporadas (seis com a atual), o trio de grandes ocupou os três primeiros postos da classificação final.
Em maior ou menor intensidade, esse cenário também aconteceu na Itália, na Inglaterra, na Alemanha, na França e em Portugal…
O culpado desse processo que tornou entediante os Nacionais é velho conhecido dos fãs do futebol europeu: a concentração de receitas em um número cada vez menor de mãos, o que fez com que os grandes jogadores sejam contratados sempre pelos mesmos poucos clubes.
Mas a solução para esse problema é bem mais complicada e passa por uma redistribuição na forma de divisão do dinheiro do futebol e também em regras mais rígidas da Uefa e da Fifa para que o poder econômico não se reflita tanto dentro de campo.
Uma ideia que vira e mexe é levantada por alguns clubes da elite da bola é a abolição dos campeonatos nacionais em prol de uma liga que abrangesse as maiores potências da Europa. Nesse cenário, o Bayern não jogaria mais semanalmente contra os Freiburg e Eintracht Frankfurt da vida, mas sim ante Chelsea, Manchester United e Inter de Milão.
É… não é só no Brasil que querem acabar com os Estaduais. Na Europa, também há gente disposta a dar um fim nos Estaduais de lá, ou melhor, nos Campeonatos Nacionais.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
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Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.