Perdoado no doping, ele trocou as drogas pela seleção inglesa em 2 anos
Rafael Reis
26/03/2017 04h00
Se a lei tivesse sido cumprida à risca, o volante Jake Livermore, 27, dificilmente teria defendido a seleção da Inglaterra no amistoso contra a Alemanha, na última quinta-feira, e é bem possível que nem estivesse jogando futebol profissionalmente neste momento.
Flagrado em um exame antidoping por uso de cocaína em abril de 2015, quando defendia o Hull City, o hoje jogador do West Bromwich poderia ficar suspenso do esporte por até dois anos.
Mas, a FA (Federação Inglesa de Futebol) tomou uma decisão rara para tribunais (seja eles desportivos ou não): não olhou para a infração cometida pelo atleta, mas sim para os motivos que levaram a ela.
Desde a morte do seu primeiro filho, ainda recém-nascido, por uma série de erros médicos que levaram o bebê a sofrer com falta de oxigenação no cérebro e hemorragias internas, alguns meses antes, Livermore havia mergulhado no mundo da depressão. Os remédios e a cocaína foram uma tentativa de encontrar um refúgio no meio de tanta dor.
O volante foi perdoado pela FA, internou-se em uma clínica de reabilitação e virou um símbolo da luta contra as drogas na Inglaterra. Atualmente, roda o país em palestras para adolescentes e dependentes químicos.
"Não é algo fácil, mas faço por uma boa causa. Os garotos são bastante receptivos, e isso te estimula a continuar nessa atividade. Mas esse é só o começo do que quero fazer. Não quero apenas ajuda-los a não cair em tentação, mas também a enfrentar as decepções da vida. Cada um tem a sua própria história", afirmou, em entrevista ao jornal britânico "The Sun".
Livermore voltou aos gramados em setembro de 2015, apenas cinco meses depois da divulgação do seu caso positivo de doping, e ajudou o Hull a retornar para a primeira divisão inglesa.
Um dos principais nomes da modesta equipe do nordeste da Inglaterra, acabou contratado há dois meses pelo West Bromwich por 11,5 milhões de euros (pouco mais de R$ 38 milhões) e voltou a ser convocado para a seleção depois de quase cinco anos de ausência.
Na derrota por 1 a 0 para a Alemanha, na quinta, atuou por 83 minutos ao lado de Eric Dier (Tottenham) na cabeça de área da equipe dirigida por Gareth Southgate. Oitenta e três minutos que valeram uma vida inteira para quem chegou a encontrar o fundo do poço e acabou resgatado de lá.
"É um sonho voltar [à seleção], espero que meu país esteja orgulhoso de mim. Quando eu mais necessitava, tive a sorte de receber muito apoio", completou Livermore.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
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Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.