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Mesmo sem escândalos, "nova" Fifa faz tudo para desagradar

Rafael Reis

30/01/2017 04h00

Gianni Infantino assumiu o comando da Fifa em 26 de fevereiro do ano passado com uma complicada e urgente missão: recuperar uma instituição marcada por décadas de corrupção epidêmica e manchada pelo afastamento do seu último presidente e pela prisão de vários dos seus principais cartolas.

Mas em seus primeiros 11 meses de mandato, o suíço só conseguiu fazer crescer a já imensa antipatia geral em relação à entidade que gerencia o futebol mundial.

Apesar de não ter se metido em nenhum grande escândalo e de ainda estar com o nome relativamente limpo, a nova gestão da Fifa tem sido marcada por decisões polêmicas e apostas bastante impopulares.

Algumas das ideias propostas por Infantino e seus companheiros são tão temerárias que podem inclusive estragar o próprio futebol e aquilo que sempre deu certo nele.

É o caso, por exemplo, da ampliação no número de participantes da Copa do Mundo. A partir de 2026, a competição mais importante do planeta terá a 48 seleções, 16 a mais do que no modelo atual.

Além da presença de várias equipes de baixo nível técnico que conseguirão a classificação, diminuindo assim a qualidade do futebol praticado no Mundial, outro fator que preocupa é o sistema de disputa.

Com 16 grupos de três seleções e o avanço das duas melhores equipes de cada chave para o mata-mata, a primeira fase pode ser tornar um mar de partidas com resultados combinados para garantir a classificação dos times que se enfrentarem na última rodada.

Outra proposta perigosa da administração Infantino veio de Marco van Basten, ex-atacante holandês nomeado pelo suíço para trabalhar no "desenvolvimento técnico" da entidade. Há duas semanas, o ex-jogador do Ajax e do Milan defendeu, entre outras medidas, o fim do impedimento.

Mesmo antes do holandês apresentar essa sugestão, você já deve ter ouvido alguma ideia semelhante… no bar ou em conversas com amigos de pelada, gente que talvez nem saiba que é o impedimento a regra essencial para o funcionamento do futebol e de toda a evolução tática registrada até hoje.

A mais nova polêmica veio na semana passada. Em nota enviada ao jornal "O Estado de S. Paulo", a Fifa disse que só reconhece como campeões mundiais os clubes que conquistaram os torneios organizados por ela (2000 e desde 2005). Assim, Flamengo, Grêmio e todos os times que venceram a antiga Taça Intercontinental não são, de acordo com a entidade, campeões mundiais legítimos.

Legalmente, não há nada de errado nessa decisão. Pelo contrário, é até natural que a entidade só reconheça como campeões aqueles que conquistaram títulos organizados por ela. Mas a questão é: qual a razão de se adotar uma política tão radical e que irá desagradar a torcedores de tantos clubes?

É por essas e outras que a Fifa de Infantino, apesar de não ter produzido novos escândalos de corrupção, não tem conseguido cumprir a missão para qual o dirigente suíço foi eleito: recuperar a sua imagem. Afinal, desagradar seu consumidor final, o fã de futebol, não é a melhor estratégia para isso.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.


Rafael Reis