Topo

Rafael Reis

Chechênia tenta esquecer passado de sangue para ser casa de Salah na Copa

Rafael Reis

04/06/2018 04h00

A Chechênia é uma região localizada no extremo oeste da Rússia. Com a dissolução da União Soviética, a república se declarou independente de Moscou, condição que nunca foi reconhecida pelo governo russo. O resultado disso foram duas guerras, entre as décadas de 1990 e 2000, que mataram cerca de 150 mil pessoas.

É esse local, uma espécie de "barril de pólvoras" separatista, que irá receber durante a Copa-2018 um dos jogadores mais badalados e valorizados do futebol mundial na atualidade, Mohamed Salah.

Grozny, cidade de 271 mil habitantes que é também a capital chechena, será a base do Egito, seleção que volta a disputar o Mundial depois de 28 anos de ausência.

Salah e cia. irão treinar na Akhmat Arena, estádio com apenas sete anos de uso e que foi completamente reformulado para servir como centro de treinamentos para a seleção africana na Copa.

"A cidade está em obras, fazendo de tudo para ficar mais limpa e organizada. Todo mundo está se esforçando ao máximo para receber bem o Egito. Eles reformaram o estádio e construíram um novo hotel. O que eles querem é que as pessoas falem bem da Chechênia", diz o zagueiro brasileiro Philipe Sampaio, que atua no Akhmat Grozny, clube número um da região.

Mas o motivo que levou o Egito a escolher a Chechênia como sua casa na Rússia pouco tem a ver com a estrutura da região e com a distância para as cidades onde irá atuar na primeira fase do Mundial – a mais próxima, Volgogrado, fica a 800 km.

O que mais pesou foi a questão religiosa. Ao contrário do que acontece na maior parte da Rússia, onde o cristianismo ortodoxo impera, 95% da população chechena é muçulmana.

"Aqui é uma região islâmica, então o Egito vai se sentir em casa. Grozny tem uma grande mesquita e respeita o Ramadã [período de jejum obrigatório para muçulmanos que começou no último dia 16 e vai até 14 de junho]", afirma o jogador formado nas categorias de base do Santos.

Philipe também acrescenta que, apesar do histórico sangrento da região e dos traumas deixados pelos conflitos das últimas décadas, o Egito não precisa se preocupar com a segurança na Chechênia.

"Hoje em dia, tudo está bem paz. Quem realmente vive aqui, sabe que é tranquilo. Depois de morar por um tempo na Chechênia, você aprende a admirar essas pessoas que são muito sofridas por causa da guerra e, mesmo assim, são carinhosas com a gente."

O Egito está no Grupo A da Copa do Mundo e estreia contra o Uruguai, no dia 15, em Ekaterimburgo. Rússia e Arábia Saudita serão as suas outras adversárias na primeira fase.

Principal jogador egípcio e artilheiro do último Campeonato Inglês, Salah corre contra o tempo para estar em campo já na primeira rodada.

O atacante do Liverpool sofreu uma lesão no ombro esquerdo durante a final da Liga dos Campeões da Europa, contra o Real Madrid, e, de acordo com os médicos da seleção, deve ficar afastado por, no máximo, três semanas.


Mais de Seleções:

– Por que algumas seleções ainda não divulgaram suas convocações para Copa?
– Dor de cabeça de Tite, lateral direita é problema global na Copa-2018
– Final da Champions mostra força de país 154º colocado no ranking da Fifa
– 4 seleções que saem em alta dos amistosos de março, e 3 que temem pela Copa

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.