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Rafael Reis

Ex-Botafogo é tão ídolo na China que ganhou até ingresso com nome em ouro

Rafael Reis

14/10/2017 04h00

Um ingresso da Copa do Mundo-2014 com seu nome cravejado em ouro. Esse é apenas um dos presentes que Elkeson já recebeu pelos serviços prestados ao futebol chinês.

O ex-atacante de Vitória e Botafogo vive no Oriente desde 2013 e se transformou em um patrimônio da China. Resultado das conquistas de três títulos nacionais e duas Ligas dos Campeões da Ásia, além dos gols, muitos gols, que ele fez por lá.

Com 80 gols, Elkeson já é o quinto maior artilheiro da história da primeira divisão chinesa e o maior goleador entre os jogadores estrangeiros. Para alcançar o recordista, Li Jinyu, faltam apenas 40 bolas na rede.

Tarefa difícil? Talvez, mas não impossível. No bate-papo abaixo, o atacante do Shanghai SIPG fala sobre o sucesso na China, um possível retorno ao futebol brasileiro e convites para defender a seleção chinesa.

Você é o maior artilheiro estrangeiro da história do futebol chinês e está a 40 gols de se tornar o maior goleador do país em todos os tempos. Essa marca está entre os seus objetivos?

Não gosto de estipular marcas nas temporadas porque isso pode se tornar uma coisa ruim pessoalmente. Gosto de trabalhar e focar muito no meu trabalho para conseguir alcançar grandes feitos nos clubes que defendo. Graças a Deus, consegui construir uma história muito bacana aqui na China e sou tratado com muito respeito pelos chineses. É claro que quebrar recordes e deixar seu nome na história é gratificante porque é um reconhecimento da sua batalha no dia a dia.

Na sua avaliação, por que você se adaptou tão bem à China? Como explica o tamanho do seu sucesso por aí?

Acredito que tive muita sorte com os companheiros que trabalhei. Quando cheguei aqui na China, o Muriqui e o Conca já estavam há mais tempo e foram fundamentais no meu início aqui no país. Além deles, os jogadores chineses me abraçaram e isso fez com que eu me sentisse em casa rapidamente. Não posso deixar de citar meu primeiro treinador na China, o Marcelo Lippi, profissional campeão por onde passou e que ajudou muito o Guangzhou a conquistar tudo.

Você está há quase 5 anos na China e viu o futebol do país mudar muito. O quanto ficou mais difícil jogar na China?

O futebol chinês investiu muito para que a liga fosse vista pelo mundo todo. Foram contratados profissionais de alta qualidade dentro e fora de campo. Treinadores campeões do mundo vieram para cá, jogadores que defendem seleções nacionais se transferiram para a China e tudo isso ajudou muito no desenvolvimento do esporte no país. Como o país tem um líder que é apaixonado pelo futebol, tudo se tornou favorável para que os clubes abrissem os cofres para trazerem profissionais renomados e, consequentemente, valorizando o produto final.

Quais hábitos e costumes chineses você já incorporou ao seu dia a dia?

Estou morando em Shanghai, que é uma cidade global. Posso encontrar restaurantes internacionais, churrascarias, supermercados com comidas que estamos acostumados, shoppings com bastante entretenimento, e isso facilitou muito o dia a dia aqui. Os costumes dos chineses são bem diferentes dos nossos e acho que não adquiri nenhum específico.

Por ser um dos maiores nomes da história do futebol da China, imagino que você já tenha recebido vários presentes e mimos de dirigentes e torcedores. Qual a coisa mais maluca e a mais valiosa que já recebeu?

Já recebi muitos presentes e homenagens de torcedores aqui na China e, inclusive, ganhei o apelido de urso. Um presente que ganhei do camisa 10 do Guangzhou Evergrande, da época em que joguei lá, em 2015, foram ingressos da Copa do Mundo realizada no Brasil com meu nome cravejado em ouro, como uma lembrança e recordação do torneio. É um presente que representa muito para mim e guardo com muito carinho. Quando fiz gol na final da Champions da Ásia, em 2013, os diretores do clube ficaram muito felizes com o título, os gols e me presentearam com uma bela bonificação.

Você é muito mais famoso na China do que no Brasil, o que atrapalha por exemplo uma ida para a seleção ou a idolatria no seu país natal? Isso te incomoda?

Acredito que, enquanto joguei no Brasil, fiz meu nome ser reconhecido através do meu trabalho. Tive uma boa passagem pelo Vitória e também pelo Botafogo. Aqui na China conquistei meus principais prêmios individuais e coletivos e, por isso, sou muito grato aos diretores e profissionais que se interessaram pelo meu futebol e me trouxeram para cá. Estamos vendo que a seleção brasileira está passando por um momento bacana com o professor Tite, que mantém os olhos abertos para os brasileiros no mundo inteiro. Vimos que Gil, Renato, Paulinho e, agora, o Diego Tardelli foram convocados atuando aqui na China, o que é muito gratificante por saber que o treinador da seleção está nos observando também.

Você ainda pensa em retornar ao futebol brasileiro ou acha que a China virou mesmo sua casa? Por quê?

Eu me sinto muito bem aqui. Ainda não passa pela minha cabeça voltar ao Brasil, mas a gente nunca sabe o dia de amanhã. Estou escrevendo uma história muito bacana aqui na China e ainda tenho objetivos a conquistar aqui no país. Ainda tenho 28 anos e alguns anos de carreira pela frente. Vamos ver o que o destino nos proporciona.

Você já recebeu alguma proposta para se naturalizar chinês e defender a seleção? Caso receba, aceitaria o convite? Por quê?

Recebo pedidos de naturalização o tempo todo de torcedores chineses que gostam muito do meu trabalho. Alguns jogadores que atuei junto e defendem a seleção chinesa também vieram me fazer esse pedido, mas nunca recebi um convite formal da federação chinesa. Se um dia isso acontecer, seria algo que eu pensaria com muito carinho junto com os meus familiares para tomar a decisão certa.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.