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Rafael Reis

Agora, Neymar depende mais da seleção do que a seleção depende dele

Rafael Reis

06/09/2019 04h20

Desde 2010, a seleção brasileira sofre de uma espécie de "Neymardependência". Todos os sucessos e fracassos vividos pela equipe nacional nesta década foram, de alguma forma, creditados na conta do seu principal astro.

Mas, a partir desta sexta-feira, quando a equipe de Tite enfrenta a Colômbia, em Miami (Estados Unidos), no primeiro amistoso depois da conquista da Copa América, a situação é outra.

Crédito: Lucas Figueiredo/CBF

Agora, Neymar depende bem mais da seleção do que a equipe pentacampeã mundial é refém do futebol do seu camisa 10.

Não que o atacante tenha deixado de ser o jogador brasileiro mais talentoso da atualidade e um nome relevante para a equipe canarinho.

Mas a solidez mostrada pela seleção durante a Copa América, ainda que o torneio estivesse bastante enfraquecido do ponto de vista técnico, mostrou que, ao contrário do que acontecia até pouco tempo atrás, há vida sem Neymar.

Se a seleção agora pode se dar ao luxo de eventualmente abdicar do seu craque, o mesmo não pode se dizer do atacante em relação ao time da CBF.

Para Neymar, o Brasil virou uma espécie de tábua de salvação. Esses amistosos de setembro são sua oportunidade de mostrar ao mundo que ele não é só o cara que tantos problemas causou na janela de transferências.

Ao forçar a barra para tentar se transferir para o Barcelona e perder a queda de braço com a diretoria do Paris Saint-Germain, o camisa 10 queimou seu filme com a única torcida que ainda o tolerava na Europa.

Detonado pelos apoiadores do PSG e com ambiente não muito agradável entre jogadores, membros da comissão técnica e dirigentes do clube francês, Neymar deve sofrer bastante nesta temporada.

Ele será cobrado e criticado como nunca, terá de enfrentar a maior desconfiança de sua carreira e precisará defender dentro de campo um projeto que ele próprio deixou claro que não acredita que pode dar certo.

Isso sem falar na motivação. Será que Neymar terá paciência para encarar os incontáveis compromissos semanais do PSG contra adversários de baixíssimo nível técnico no Campeonato Francês?

Na seleção, por outro lado, o ambiente lhe é muito mais favorável. Lá, ele conta com um treinador que parece estar ao seu lado até o fim e que o poupa de críticas mesmo nos momentos mais difíceis de defendê-lo.

Também não precisa brigar com ninguém do elenco para exercer o papel de líder. Afinal, a maior parte dos jogadores são seus "parças" e não têm nenhuma restrição afetiva a ele.

Ou seja, a equipe nacional é seu porto seguro para poder pensar exclusivamente em futebol e mostrar nos gramados que ainda é um jogador da prateleira de cima dos craques do planeta.

Por isso, Neymar depende tanto da seleção… bem mais do que a seleção hoje depende dele.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.