Topo

Rafael Reis

Por que Firmino é o melhor "camisa 10" brasileiro da atualidade?

Rafael Reis

20/05/2018 04h00

A decisão da Liga dos Campeões da Europa, entre Real Madrid e Liverpool, no próximo sábado (26), em Kiev (Ucrânia), levará a campo o melhor camisa 10 brasileiro desta temporada.

Sim, eu sei que Marcelo, Casemiro e Roberto Firmino, os representantes do futebol pentacampeão mundial envolvidos na final, não usam o número que Pelé consagrou e nem atuam (pelo menos oficialmente) na posição de armador de jogadas.

Marcelo é lateral esquerdo e uma das principais opções ofensivas do Real pelos lados do campo. Casemiro, volante, é o cão de guarda da defesa espanhola. E Firmino é centroavante… Será que ele é mesmo centroavante?

Apesar de usar o número 9 às costas e passar a maior parte do tempo em campo na faixa central do ataque do Liverpool, Firmino não é centroavante. Na verdade, centroavante é tudo que ele não é.

O jogador de 26 anos, que deixou o Figueirense ainda na adolescência para tentar a sorte na Alemanha (Hoffenheim) antes de se consagrar nos "Reds", é o verdadeiro camisa 10 do esquema montado pelo técnico alemão Jürgen Klopp.

Basta acompanhar as movimentações ofensivas do Liverpool para se chegar à essa conclusão.

Em boa parte dos ataques ingleses, Firmino deixa o comando do ataque e recua até a intermediária para buscar a bola e fazer com que os zagueiros adversários se adiantem em campo.

O espaço que ele acaba deixando vazio lá na frente é ocupado pelas entradas em diagonal dos pontas Sadio Mané e, principalmente, Mohamed Salah, os alvos primordiais de seus passes quando está na posição normalmente ocupada por um "camisa 10".

A facilidade de Firmino em exercer essa função não é mero acaso. Nos seus primeiros anos de Europa, ele não era atacante, mas sim um meia que encostava no ataque (às vezes pela faixa central, outras como ponta). Foi só com Klopp que ele passou a ser escalado como "centroavante".

A inteligência tática do brasileiro e esse recuo dele para a faixa de criação de jogadas são dois dos motivos do sucesso do Liverpool.

Se Salah vive o momento máximo de sua carreira, foi artilheiro do Campeonato Inglês e pode até aparecer como finalista do prêmio de melhor jogador do mundo, parte da culpa é do ex-Hoffenheim.

Não à toa, Firmino divide com James Milner, seu companheiro nos "Reds", o posto de jogador com maior número de assistências da Champions. O alagoano já deu oito passes para gol nesta edição do torneio interclubes mais importante do planeta, três só na semifinal contra a Roma.

Em toda a temporada, já são 17 assistências, mais do que em qualquer outro momento de sua carreira.

Mas a característica que faz de Firmino um jogador tão especial e essencial para o sucesso do Liverpool é também o que reduz suas chances de ser titular da seleção brasileira.

Ao contrário dos Reds, o time de Tite não está acostumado a ter no comando de ataque um jogador que se comporta como "camisa 10" e deixa tanto a área para as entradas em diagonais dos atacantes de lado de campo.

Gabriel Jesus, apesar de também ser um centroavante de mobilidade, tem mais presença de área de Firmino. Resta ao jogador do Liverpool convencer Tite que sua grande fase pode compensar qualquer dificuldade tática que ele possa vir a ter em uma formação mais "tradicional".

A final da Champions é uma boa oportunidade para isso.


Mais de Opinião

– Nacionais da Europa ficaram tão chatos quanto os Estaduais brasileiros
– O que Salah precisa fazer para desbancar Messi e CR7 no Melhor do Mundo?
– É loucura imaginar Salah como finalista de prêmio de melhor do mundo?
– Semana de amistosos vai mostrar seleção favorita para vencer a Copa?

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.