Topo

Colocar Messi no mesmo patamar de Pelé já deixou de ser heresia

Rafael Reis

05/05/2019 04h00

Durante décadas, aqui no Brasil, apenas levantar a hipótese de que Pelé talvez não fosse o maior jogador da história já era uma heresia digna de ser acompanhada de uma grave acusação: "você não entende nada de futebol".

E, assim, o Rei foi sobrevivendo a todos os fenômenos que foram surgindo e se aposentando nos gramados. Garrincha, Franz Beckenbauer, Johann Cruyff, Zico, Michel Platini, Romário, Ronaldo, Zinédine Zidane, Ronaldinho sequer arranharam sua armadura de ícone máximo da modalidade. Diego Maradona até fez um estrago, mas só na Argentina.

Crédito: Montagem

Então, surgiu Lionel Messi, e a brincadeira começou a ficar séria. Lá no começo da década, quando o Barcelona encantou o mundo na "era Guardiola", os torcedores culés já ousavam colocar o argentino acima de Pelé na hierarquia da bola. Depois, a opinião se espalhou pela Europa. Agora, há muitos brasileiros que consideram essa possibilidade.

"Vamos crucificá-los por traição à pátria e sobretudo à Vossa Majestade, o eterno camisa 10 do Santos", os mais histéricos já hão de bradar. Mas, não, eles não estão cometendo nenhuma heresia. Pelo menos, não mais…

Messi joga em altíssimo nível há pelo menos 12 anos. Nesse período todo, só ficou uma vez de fora do pódio do prêmio de melhor jogador do mundo. Ganhou cinco desses troféus e está a caminho do sexto. Também empilhou dez títulos espanhóis, quatro Liga dos Campeões (está a dois jogos da quinta) e fez mágicas semanais com a camisa do Barcelona.

Talvez (e eu digo apenas talvez) tudo isso não seja suficiente para colocá-lo acima de Pelé. Mas, certamente, basta para que a discussão sobre o tema seja considerada. Ou seja, aqueles que chamam o craque argentino de GOAT ("Greatest of All Times", ou Maior de Todos os Tempos, em português) já merecem ser respeitados.

"Mas o Rei ganhou três Copas do Mundo, e Messi, nenhuma." Bem, essa é só uma meia verdade. O camisa 10 do Barça realmente jamais venceu o Mundial de seleções, mas tem uma carreira repleta de sucesso, louros e condecorações no torneio de maior nível técnico do planeta, aquele que reúne os melhores jogadores da Terra.

É claro que a Copa tem todo um glamour único. Mas, no século 21, a competição que representa a elite do futebol mundial e o confronto entre os maiores treinadores e jogadores não é mais o Mundial, mas sim a Champions.

Essa é a razão pela qual comparar feitos de duas pessoas que viveram em épocas diferentes é tão complicado. O tempo altera padrões e cria novas situações difíceis de serem mensuradas e devidamente avaliadas.

O mais certo a dizer é que Messi representa para o futebol contemporâneo, aquele que é 100% globalizado e concentra os melhores jogadores em alguns poucos times e campeonatos, o mesmo que Pelé foi para o futebol do passado, a era romântica das seleções e de torcidas apenas locais.

Os dois são os melhores jogadores da história. Cada um, de uma história diferente.

Por isso e por tudo que estamos vendo nos gramados semana depois de semana, é preciso respeitar quem considera o argentino maior que o brasileiro.


Mais de Opinião

– Mesmo que não vença a Champions, Messi já é o melhor do mundo
– PSG decepciona até quando está para ser campeão
– Com ajudinha de Diego Costa, Barcelona será campeão espanhol de novo
– O futebol precisa destruir o racismo antes que o racismo destrua o futebol

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Colocar Messi no mesmo patamar de Pelé já deixou de ser heresia - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.


Rafael Reis