Ídolo mexicano vira governador mesmo acusado de corrupção e assassinato
Rafael Reis
04/10/2018 04h00
"Vou defender Morelos como defendi a camisa da seleção." Foi com esse discurso que o ex-atacante Cuauhtémoc Blanco, 45, assumiu na segunda-feira o cargo de governador de um dos 31 estados que compõem o México.
Esse já é o segundo cargo político ocupado pelo veterano de três Copas do Mundo (1998, 2002 e 2010) desde que decidiu pendurar as chuteiras para vestir terno e gravata, há quase três anos.
Entre 2016 e 2018, Blanco foi prefeito de Cuernavaca, cidade de cerca de 350 mil habitantes que é a capital do estado de Morelos.
O mandato do ex-jogador não foi muito diferente do de vários políticos profissionais. O ex-atacante do América (MEX), do Valladolid (ESP) e do Chicago Fire (EUA) apareceu em mais de um escândalo de corrupção.
Blanco foi investigado por supostamente ter pago uma mesada com dinheiro público para oito familiares. Além disso, foi indiciado pelo recebimento do equivalente a R$ 1,1 milhão do PSD (Partido Social Democrata), seu partido na época, para participar da eleição municipal, o que é considerado crime no país.
No ano passado, o ídolo do futebol mexicano também foi acusado de ser o mandante do assassinato de um líder local, Juan Manuel García, organizador da Feira da Primavera de Morelos.
Na época, Blanco negou participação no crime e disse que essa suspeita havia sido plantada por opositores e teriam motivações políticas.
Os escândalos, no entanto, não prejudicaram a popularidade do antigo camisa 10 da seleção mexicana. Nas eleições governamentais de Morelos, o candidato do PES (Partido Encontro Social), de centro-direita, teve 52,69% dos votos.
Para o novo cargo, Blanco montou um gabinete cheio de nomes que, assim como ele, construíram sua história no mundo do futebol.
O empresário José Manuel Sanz, que foi seu representante durante a maior parte da carreira e o acompanhou até a aposentadoria, foi nomeado chefe de gabinete do Governo. Já o ex-árbitro Gilberto Alcalá virou secretário de Desenvolvimento Social.
Ex-assessor de imprensa do América (MEX), último clube defendido por Blanco, o jornalista Francisco Reyes é o porta-voz do governo.
Pelo menos outros dois ex-companheiros de gramados do ex-atacante também fazem parte do governo: o ex-meia Germán Villa ganhou o comando do Instituto do Esporte e da Cultura Física, enquanto o ex-lateral Isaac Terrazas é o novo administrador do maior estádio da região.
Assim como o México, o Brasil tem um ídolo dos gramados tentando se tornar governador de um estado importante neste ano.
O ex-atacante Romário (Podemos), principal astro da conquista do tetracampeonato mundial, em 1994, disputa o governo do Rio de Janeiro e, de acordo com as pesquisas, têm chances de ir para o segundo turno contra o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM).
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
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Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.