Como CR7 superou famas de "cai-cai" e mimado para virar quase unanimidade
Rafael Reis
19/09/2018 04h00
"No começo, ele era um 'piscinero' [termo em espanhol para quem simula faltas e pênaltis]. Era uma falha no seu jeito de jogar futebol que precisávamos utilizar da disciplina para conseguir corrigir."
A declaração dada por Alex Ferguson, treinador de Cristiano Ronaldo no Manchester United entre 2003 e 2009, em entrevista ao jornal espanhol "El Pais", em 2015, mostra uma faceta do craque português que o tempo praticamente apagou.
Antes de conquistar cinco prêmios de melhor jogador do mundo e se tornar praticamente uma unanimidade no planeta, CR7 era considerado um grande "cai-cai" e um jogador para lá de mimado.
Sim, o atacante de 33 anos, que estreou nesta quarta-feira pela Juventus na Liga dos Campeões da Europa e foi expulso contra o Valencia, na Espanha, já teve uma imagem muito parecida com a que persegue Neymar na atualidade.
Contratado do Sporting pelo United quando tinha apenas 18 anos, Ronaldo chegou à Inglaterra vestindo a camisa 7 que anteriormente era usada por David Beckham e rapidamente despertou o ódio das torcidas adversárias.
Mas o motivo da ira não era a qualidade que mostrava dentro de campo. Em geral, o torcedor inglês abomina os jogadores que simulam faltas e pênaltis. E essa pecha rapidamente virou a marca de CR7.
Foi preciso um tratamento de choque para livrar o português dessa mania. Um tratamento dado por seus próprios companheiros de clube, como detalhou o ex-volante Phil Neville em um documentário produzido pela ITV.
"Posso dizer que os 12 primeiros meses dele foram de um intenso processo de fortalecimento. Na época, tínhamos Keane, Butt e Scholes. E, nos treinos, sempre que Ronaldo pegava na bola, eles o chutavam repetidamente. Não foi só uma vez. Isso aconteceu todos os dias, todas as semanas, durante a temporada toda."
Se o apreço pelas simulações foi destruído na base das porradas, a fama de garoto mimado resistiu por mais tempo.
Até poucos anos atrás, era comum ouvir muita gente falando que Ronaldo era mais um fenômeno de marketing do que um jogador de futebol e que estava mais preocupado com seu visual (o clássico "olhar para o telão" é dessa época) do que com os objetivos profissionais.
O que o português fez para destruir esses comentários? Trabalhou duro e virou uma máquina de conquistas.
Ganhou quatro das cinco últimas edições da Champions com o Real Madrid, ajudou Portugal a alcançar o maior feito de sua história no futebol, o título da Eurocopa-2016, e faturou cinco prêmios de craque máximo do planeta.
Na marra, venceu seus críticos. E virou praticamente uma unanimidade, uma certeza de sucesso. Até para quem não gosta muito do seu estilo um tanto quanto marrento.
Ronaldo é um dos três indicados ao prêmio de melhor do mundo na temporada 2017/18. Finalista ao lado do egípcio Mohamed Salah (Liverpool) e do croata Luka Modric (Real Madrid), ele busca superar Lionel Messi e se isolar como o maior vencedor da história da eleição feita anualmente pela Fifa.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.