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"Muito melhor que CR7", português hoje ganha a vida em liga para amadores

Rafael Reis

03/09/2018 04h00

Nos seus primeiros dias de Manchester United, Cristiano Ronaldo não teve vergonha de falar para os jornalistas ingleses que cobriam o dia-a-dia do clube: "Se vocês acham que sou bom, esperem para ver Fábio Paím".

Quinze anos se passaram desde essa profecia. Quinze anos que provaram que, como adivinho, CR7 é mesmo um grande jogador de futebol.

Enquanto Ronaldo fez história conquistando todos os títulos possíveis com o United e com o Real Madrid, levou sua seleção à conquista da Eurocopa-2016, foi eleito por cinco vezes o melhor do planeta e acabou de ser contratado pela Juventus, seu apadrinhado hoje atua no futebol amador de Portugal.

Aos 30 anos, Paím é hoje a atração da Associação Desportiva de São Pedro da Cova, time de uma cidadezinha de 15 mil habitantes que disputa a Divisão de Elite da região do Porto, um equivalente à quarta divisão portuguesa.

Nessa competição, os clubes não são obrigados a pagar sequer o salário mínimo (676,7 euros, ou R$ 2.900) para seus jogadores, o que faz com que alguns deles não vivam exclusivamente do futebol e tenham outros empregos para completar a renda.

Paím não está no São Pedro da Cova porque o futebol não lhe deu chances. Pelo contrário, muitas oportunidades lhe bateram na porta. Mas se transformaram em carros luxuosos (teve "Ferrari, Lamborghini, Porsche, Maserati"), mulheres e muito álcool.

"Tenho colegas que deixaram de jogar bola, perderam tudo e não sabem o que fazer. Eu estou aqui. Já perdi tudo há oito ou nove anos, mas continuo aqui. O dinheiro deixa de entrar, mas as contas continuam. E grandes! As minhas agora são pequeninas, tive de me adaptar", disse, em entrevista ao jornal português "Record", em abril.

Filho de pais angolanos, Paím era a grande atração das categorias de base do Sporting no começo do século e costumava levar milhares de torcedores ao estádio para vê-lo em ação jogando por equipes sub-15 e sub-17.

Dono de uma habilidade muito acima da média, assinou com o empresário Jorge Mendes, o mesmo de Cristiano Ronaldo, e ficou milionário ainda na adolescência. Aos 16 anos, ele ainda nem era profissional, mas já tinha salário maior do que metade do elenco adulto do Sporting.

Só que o dinheiro mexeu com sua cabeça. Paím trocou os treinos pelas baladas, e seu futebol murchou rapidamente. A maior prova disso é que ele jamais disputou uma partida oficial pela equipe principal do Sporting.

Antes de deixar o clube de Lisboa, o então jovem português foi emprestado para seis times diferentes, mas em nenhum deles conseguiu comprovar seu potencial. O prestígio de Jorge Mendes lhe deu até uma oportunidade no Chelsea durante a gestão do técnico brasileiro Luiz Felipe Scolari. Mas Paím não chegou a entrar em campo.

Em 11 anos de carreira, o "Cristiano Ronaldo que não vingou" defendeu nada menos do que 21 clubes. Ele jogou em Malta, na Lituânia, em Luxemburgo e até passou pelas divisões inferiores do Rio de Janeiro no ano passado (treinou no nanico Paraíba do Sul).

Mas a história foi sempre a mesma: muita expectativa na chegada e uma saída sem deixar saudades.

"Querem que seja sincero? Eu não era melhor do que o Cristiano Ronaldo. Eu era muito melhor. Só que ele trabalhava muito mais do que eu", completa Paím.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.


Rafael Reis