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Guerra e refugiados transformam Suíça x Sérvia em "panela de pressão"

Rafael Reis

22/06/2018 04h00

Xherdan Shaqiri nasceu em Gjilan, cidade que hoje faz parte do território de Kosovo. Ainda bebê, mudou-se com seus pais e irmãos para a Suíça. O motivo: o desejo de viver em paz, longe dos horrores da guerra.

São histórias como a do meia-atacante do Stoke City (ING), escritas à base de sangue, que fazem com que o encontro entre suíços e sérvios, nesta sexta-feira, em Kaliningrado, pela segunda rodada do Grupo E da Copa do Mundo, seja muito mais do que uma mera partida de futebol.

Para sete dos 23 jogadores convocados pelo técnico Vladimir Petkovic para a Rússia-2018, a Sérvia não é apenas uma adversária por vaga nas oitavas de final, mas sim uma antiga inimiga de guerra que transformou completamente os rumos de suas vidas.

Três deles nasceram na Iugoslávia. Outros quatro são descendentes de minorias étnicas que faziam parte do antigo país. Todos encontraram na Suíça um lar quando os conflitos começaram.

O processo de desintegração da Iugoslávia, que era liderada por um governo de maioria sérvia, durou praticamente toda a década de 1990 e foi marcado por sucessivas guerras que provocaram a morte de 30 mil pessoas e uma enorme onda migratória de refugiados.

Mais de 30% da atual seleção suíça é filha desses conflitos. Além de Shaqiri, o volante Granit Xhaka e o meia Valon Behrami possuem DNA de Kosovo. O meia Blerim Dzemaili nasceu na Macedônia. Os atacantes Josip Drmic e Mario Gravranovic têm origem croata. O centroavante Haris Seferovic é da Bósnia.

Todos poderiam defender hoje defender os países dos seus antepassados, mas optaram por vestir a camisa da Suíça. E viraram nomes importantes do futebol helvético.

Shaqiri é o craque do time. Behrami, o primeiro jogador da história suíça a disputar quatro edições de Copa do Mundo. E Seferovic fez o gol da conquista do título mundial sub-17 de 2009.

No mês passado, um post de Shaqiri em sua conta no Instagram foi visto como uma provocação pelos sérvios. O jogador publicou a imagem das chuteiras que usaria no Mundial. Um dos pés tinha a bandeira suíça. O outro, a kosovar.

A federação sérvia emitiu uma nota oficial pedindo aos torcedores que vão à partida para não entrarem em provocações ou conflitos com os antigos inimigos de guerra.

"Devemos estar unidos com nossos jogadores em campo. Não devemos responder a possíveis provocações. Vamos mostrar ao mundo que somos pessoas que não nos aproveitamos do futebol para fins políticos."

A Suíça estreou na Rússia-2018 empatando por 1 a 1 com o Brasil. Já a Sérvia largou com uma vitória magra, por 1 a 0, sobre a Costa Rica.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.


Rafael Reis