Esquecido, 1º brasileiro campeão europeu foi "parça" de Puskás e Di Stéfano
Rafael Reis
19/05/2018 04h00
Darcy Silveira dos Santos poderia andar tranquilamente pelas ruas de São Paulo, Rio de Janeiro ou qualquer outra metrópole nacional.
Ao se deparar com esse senhor de 83 anos, quase ninguém no país imaginaria estar diante do integrante de um dos maiores esquadrões da história do futebol mundial e do primeiro brasileiro a conquistar o título europeu de clubes.
Canário, como ficou conhecido no mundo da bola, estava ao lado de Alfredo di Stéfano, Ferenc Puskás e Francisco Gento quando o Real Madrid goleou o Eintracht Frankfurt por 7 a 3, no dia 18 de maio de 1960, em Glasgow (Escócia), e conquistou pela quinta vez consecutiva a Copa Europa, hoje Liga dos Campeões da Europa.
O brasileiro, que atuava como ponta direita, não marcou nenhum gol ao longo da campanha, mas era titular absoluto da equipe que até hoje detém o recorde de maior número de títulos consecutivos da Champions.
Didi, o maestro da seleção brasileira na Copa do Mundo-1958, também fazia parte do elenco do Real na temporada 1959/60. Mas, ao contrário de Canário, era reserva e não entrou em campo na conquista do título europeu.
Mas por que o primeiro brasileiro campeão do torneio interclubes mais importante do planeta na atualidade é pouco lembrado em sua terra natal?
Canário não jogou em nenhum dos times que hoje fazem parte do primeiro escalão do futebol nacional. Ele começou a carreira no Olaria e depois se destacou no América (RJ), clube que o negociou com o Real, em 1959.
Sua história na seleção também não foi tão extensa. O ponta fez parte da pré-convocação para a Copa do Mundo-1958, mas acabou fora da lista final. Depois que migrou para o exterior, passou a ser ignorado pela comissão técnica, algo corriqueiro na época.
"Eu estava pré-selecionado, mas aí veio o Garrincha e eu fiquei, né? Foram Garrincha e Joel, dois ótimos jogadores. Garrincha foi um dos maiores fenômenos que passaram pelo futebol brasileiro, só isso", disse, em entrevista ao UOL, em 2013.
No caso de Canário, a ida para a Espanha foi definitiva. Canário ficou no Real durante três anos e ainda jogou por Sevilla, Zaragoza e Mallorca na década de 1960. Depois da aposentadoria, não quis retornar ao Brasil. Preferiu continuar na Europa.
O primeiro brasileiro vencedor da Champions vive até hoje em Zaragoza, cidade onde se estabeleceu, formou família e criou vínculos. Ele chegou a ter uma cafeteria, mas hoje está aposentado.
Frequentemente, é chamado para participar de algum evento do Real Madrid, onde, ao contrário do Brasil, ainda é tratado como uma celebridade.
"Fiz parte de uma das melhores finais da história da Liga dos Campeões, uma final que acho que jamais irá se repetir. Não acredito que hoje em dia algum time vai conseguir fazer sete gols em uma decisão de Champions", afirmou, no ano passado, ao jornal espanhol "As".
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.