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O dia em que um técnico brasileiro eliminou Pelé da Copa do Mundo

Rafael Reis

16/02/2018 04h30

Comandar uma seleção estrangeira em Copa do Mundo não chega a ser nenhuma novidade para treinadores brasileiros. Ter de enfrentar a equipe de sua terra natal em um Mundial também não tem nada de inédito.

Agora, derrotar a seleção mais vitoriosa da história na principal competição do futebol mundial é um feito que apenas um técnico brasileiro conseguiu.

E o carioca Otto Glória o fez em grande estilo. À frente de Portugal, derrotou o Brasil por 3 a 1 e provocou a eliminação da equipe canarinho ainda na fase de grupos da Copa do Mundo de 1966.

Uma marca tão histórica que jamais voltou a se repetir. Nos últimos 52 anos, a seleção brasileira sempre chegou pelo menos às oitavas de final do torneio que conquistou cinco vezes.

O feito de Otto Glória é ainda mais impressionante quando se analisa quem estava do outro lado do campo. Apesar de envelhecido e taticamente confuso, o Brasil vinha de dois títulos mundiais consecutivos e tinha em campo Pelé e Jairzinho. O banco também era estrelado: Djalma Santos, Bellini, Gerson, Zito, Garrincha e Tostão.

Por ter vencido nas duas primeiras rodadas do Grupo 3 (contra Hungria e Bulgária), Portugal só precisava de um empate para passar para a fase final do Mundial. Mesmo assim, não demorou para construir o placar.

Aos 15 min do primeiro tempo, António Simões abriu o placar. Doze minutos depois, o craque Eusébio ampliou. A situação brasileira ficou ainda pior depois que o zagueiro João Pedro Morais deu duas entradas violentas em Pelé e deixou o camisa 10 baleado, arrastando-se em campo.

Na segunda etapa, Rildo (Botafogo) diminuiu. Mas Eusébio fez mais um, selou a classificação portuguesa, mandou o Brasil de volta para a casa e decretou a façanha de Otto Glória.

Após o 3 a 1 em Liverpool, o treinador brasileiro continuou fazendo história no Mundial da Inglaterra. Os portugueses terminaram a competição na terceira posição, algo que nem as gerações de Figo e Cristiano Ronaldo conseguiram repetir.

Otto Glória, que já tinha passado por Botafogo, Vasco, Benfica, Belenenses, Sporting, Olympique de Marselha, Vasco e Porto antes da Copa, migrou para a Espanha e foi dirigir o Atlético de Madri após ganhar destaque com a seleção lusa.

Em 1971, voltou para o futebol brasileiro e entrou para o folclore local na decisão do Paulista-1973, quando ordenou que os jogadores da Portuguesa deixassem o gramado ao perceber que o árbitro da partida contra o Santos havia errado na contagem dos gols na disputa de pênaltis. Por essa razão, o título estadual daquele ano foi dividido entre os dois clubes.

O treinador ainda teve uma segunda passagem pela seleção de Portugal.  Após ser goleado por 4 a 0 em um amistoso contra o Brasil (o mesmo país que ele havia eliminado na Copa-1966), Otto Glória perdeu o emprego e encerrou sua trajetória internacional.

O técnico sensação do Mundial da Inglaterra morreu no dia 4 de setembro de 1986, aos 69 anos.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.


Rafael Reis