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Motor do Real, Modric passou a infância em hotel para refugiados de guerra

Rafael Reis

18/03/2017 04h00

Aos 6 anos, você é obrigado a abandonar sua casa com a mãe para não morrer nas mãos do exército. Sem ter para onde ir, encontra teto em um hotel transformado em abrigo para refugiados de guerra. Seu avô, que ficou para trás, comprova que o temor da família não era em vão e acaba brutalmente executado pelos inimigos.

Qual o futuro dessa criança? Juntar-se a um grupo terrorista para descontar nos outros todo o sofrimento que sentiu, entrar para o mundo do crime organizado, tornar-se um indigente? Quase todas as opções são mais prováveis do que virar o "dono" do meio-campo de um dos maiores times de futebol do mundo.

Essa é a história da vida de Luka Modric, 31, peça essencial para que as engrenagens do Real Madrid funcionem desde que foi contratado do Tottenham, cinco anos atrás.

O meia franzino, de apenas 1,74 m e 65 kg, nasceu em um vilarejo com menos de 200 habitantes próximo a Zadar, cidade litorânea que então fazia parte da Iugoslávia.

Modric teve uma infância pobre, porém normal, até 1991, quando a Croácia declarou de forma unilateral sua independência e entrou em guerra contra o governo central iugoslavo (hoje Sérvia).

De uma hora para outra, a vida de Luka mudou radicalmente. Seu pai, Stipe, juntou-se ao exército croata pró-independência e foi para o campo de batalha. Com medo, sua família abandonou o vilarejo de Zaton Obrovacki, onde vivia. E houve ainda o assassinato do seu avô.

Com a preocupação única de sobreviver, o pequeno Modric acabou crescendo em um hotel para refugiados de guerra, em Zadar. Lá, sua mãe fez de tudo para poupá-lo dos horrores da guerra. Sua intenção era colocá-lo dentro de uma bolha.

Bolha onde o futuro meia do Real passava os dias chutando uma bola de um lado para o outro à espera do fim do conflito que havia mudado completamente sua vida.

E quando a guerra terminou, em 1995, Luka estava pronto para começar a escrever sua improvável história de sucesso. Aos 11 anos, entrou nas categorias de base do Zadar. Aos 16, assinou com o Dínamo de Zagreb, o clube mais poderoso da Croácia. Com 20, estreou na seleção principal. E, aos 22, migrou para a bilionária Premier League inglesa.

Foram quatro temporadas e quase 160 jogos pelo Tottenham até o Real Madrid desembolsar 30 milhões de euros (R$ 100 milhões) para levá-lo ao futebol espanhol, em 2012.

Em Madri, Modric não demorou para se tornar peça essencial no meio-campo galáctico e um dos jogadores de sua posição mais admirados pelos torcedores de todo o planeta.

Em cinco temporadas de Real, ele acumula 11 gols, 31 assistências, dois títulos da Liga dos Campeões da Europa e, o mais importante, a certeza de que driblou com a classe que lhe é habitual o destino sombrio que parecia reservado para o pequeno Luka.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.


Rafael Reis