Topo

Novo prêmio de melhor do mundo pode se tornar concurso de fã-clubes

Rafael Reis

02/11/2016 06h00

Que me desculpe o famoso ditado popular, mas a voz do povo não é a voz de Deus. A voz do povo é no máximo a voz do povo.

E é exatamente por isso que o novo prêmio de melhor jogador do mundo da Fifa, que será entregue pela primeira vez em janeiro, já nasce sob um grande risco: o de não consagrar necessariamente os melhores do planeta.

Para quem está por fora da discussão, aí vai um breve resumo. Após o fim da parceria com a revista "France Football", dona da marca "Bola de Ouro", a entidade que administra o futebol mundial decidiu mexer radicalmente na eleição do craque máximo do futebol mundial.

De acordo com o novo regulamento, os votos dos capitães e técnicos das seleções filiadas à Fifa distribuirão 50% dos pontos. A outra metade sairá da soma entre as escolhas feitas por jornalistas consultados e o resultado de uma enquete aberta para todos.

Do ponto de vista do marketing, a participação popular na eleição do melhor do mundo é uma grande sacada da Fifa e pode até mesmo aumentar o interesse pela festa de graça. O problema é que ela coloca em xeque a relevância técnica do prêmio.

Não que torcedores sejam incapazes de dar votos precisos e tenham opiniões menos importantes que os especialistas. Mas, eles são mais sujeitos a campanhas e lobbys para favorecer um determinado atleta.

O risco é que o prêmio de melhor do mundo da Fifa acabe se tornando uma competição de popularidade, uma espécie de disputa entre fã-clubes, em que levam vantagem aqueles que possuem uma base maior de admiradores.

Esse sistema favorece atletas já consagrados, como Cristiano Ronaldo, Lionel Messi e mesmo Neymar, que já construíram ao longo da carreira uma base considerável (e bastante organizada) de fãs. Fãs que podem votar em peso nos seus candidatos, distorcendo a eleição.

É claro que distorções baseadas na popularidade já aconteceram no passado. Em 2010, o meia Wesley Sneijder fez chover pela Inter de Milão e pela seleção holandesa. Mas foi solenemente ignorado pelo colégio eleitoral formado por técnicos e capitães e não ficou nem entre os finalistas do prêmio.

Mas, com o voto popular, ainda que representando apenas parte da pontuação final da eleição, a possibilidade de resultados menos técnicos é amplificada. Afinal, o poder de mobilização em prol de um candidato é muito maior.

A vitória de Wendell Lira na última edição do Prêmio Puskas, é prova disso. O brasileiro foi o mais votado na enquete de gol mais bonito do ano depois de uma intensa comoção popular por sua história de superação e de campanhas de voto em bloco organizadas por pessoas influentes nas redes sociais.


Mais de Cidadãos do Mundo

Algoz de Lewandowski, francês entra na briga por artilharia da Europa
Estrela do Bayern, Alaba é filho de príncipe que virou DJ
Veterano de Belarus passa em branco, mas ainda lidera artilharia da Europa
Veteranos no "soccer": 7 medalhões brasileiros que jogam nos EUA

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Novo prêmio de melhor do mundo pode se tornar concurso de fã-clubes - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.


Rafael Reis