Sem juízo, astro de adversário do Brasil realizou sonho de imitar Higuita
Rafael Reis
04/08/2016 06h00
Capitão da seleção principal, uma Copa do Mundo no currículo, três títulos nacionais, ídolo de um dos clubes mais populares do país. Não é à toa que o time olímpico da África do Sul é Itumeleng Khune, 29, e mais dez.
Mas quem pensa que o goleiro do adversário de estreia do Brasil no futebol da Rio-2016, nesta quinta-feira, é aquele cara centrado, que esbanja responsabilidade e que foi convocado justamente para colocar juízo na cabeça da garotada vai levar um susto nos próximos parágrafos.
Khune, há quase uma década o dono da meta do Kaizer Chiefs, uma espécie de Flamengo sul-africano, tinha um sonho um tanto quanto maluco na carreira: refazer a célebre defesa do escorpião, imortalizada por René Higuita.
Mas enquanto o colombiano protagonizou o lance mais maluco de sua carreira em um amistoso contra a Inglaterra e com o juiz já tendo assinalado impedimento, o sul-africano queria replicar a jogada em uma partida oficial e com a bola em disputa.
Em novembro do ano passado, 20 anos após o célebre momento de Higuita, Khune teve a audácia de cumprir seu incomum objetivo.
O Kaizer Chiefs vencia o Mpumalanga Black Aces por 1 a 0, em jogo válido pela primeira divisão sul-africana, quando a bola foi lançada ao gol do capitão sul-africano na altura ideal. Ele não teve dúvidas: jogou o corpo para frente, saltou e, com o calcanhar direito rebateu a pelota.
O lance, não tão plástico quanto o original, para ser justo com Higuita, foi comemorado como um gol por Khune, que tratou de correr em direção a colegas de time para abraçá-los.
"Eu prometi que faria isso em uma partida oficial e cumpri nesta noite contra os Aces. Que alívio", publicou o goleiro em suas redes sociais, após a partida.
Apesar do lance emblemático, Khune não é só um malucão, mas sim um dos mais importantes goleiros do continente africano na atualidade. E uma celebridade em seu país.
São 77 partidas pela seleção principal no currículo, um prêmio de melhor jogador da liga da África do Sul (algo raro para um goleiro) e incontáveis elogios pelos seus reflexos apurados e ótima reposição de bola.
Na Copa das Confederações de 2009, chegou a defender um pênalti cobrado por David Villa. No Mundial do ano seguinte, foi titular da meta dos anfitriões, mas acabou expulso na partida contra o Uruguai.
No Rio, terá o papel de comandar a seleção sub-23 da África do Sul dentro de campo. Só não dá para esperar dele uma liderança baseada em caretices.
Mais de Cidadãos do Mundo
–Brasil ou África? Rival da estreia olímpica, gremista admite mudar de lado
–5 garotos que ameaçam o inédito ouro olímpico do Brasil no futebol
–40% dos jogadores da Rio-2016 já estrearam na seleção principal
–Vilão em 1996, Kanu passou por cirurgias cardíacas e brilhou em time falido
–Quem serão os campeões de 2016/17? Participe do "Bolão do Futebol Europeu"
Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.