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Simeone é o Felipão que entende o futebol moderno

Rafael Reis

16/04/2016 08h00

Ver Diego Simeone no banco de reservas exalando desespero, reclamando de tudo e de todos e orquestrando um time que joga à sua imagem e semelhança, com jogadores transpirando sangue, defendendo como poucos, arrumando treta sempre que possível e vencendo suas partidas no jogo aéreo e na bola parada, traz uma sensação de "déjà vu" para quem viveu o futebol brasileiro nos anos 1990.

É difícil olhar para o treinador do Atlético de Madri em uma partida da Liga dos Campeões e não se lembrar imediatamente das históricas campanhas de Luiz Felipe Scolari nas Libertadores e Copas do Brasil do fim do século passado.

E, antes que os mais críticos ao trabalho de Felipão achem que essa é uma tentativa de desvalorizar Simeone e defender o Barcelona, eliminado da Champions pelo Atlético na quarta-feira, já digo: a verdade é o contrário, esse é um grande elogio ao argentino.

Antes de ser o cara do 7 a 1, o treinador que fez o Brasil passar vergonha em casa em uma Copa do Mundo, Scolari foi um gênio dos matas-matas. Alguém capaz de vencer uma Copa do Brasil com o Criciúma (1991), dar o bicampeonato da Libertadores ao Grêmio (1995) e fazer o Palmeiras ganhar o mais cobiçado título das Américas (1999). Isso sem contar, é claro, a Copa de 2002.

Com exceção do penta, os maiores feitos de Felipão não foram conquistados com os elencos dos mais técnicos e habilidosos. Pelo contrário, foram ganhos por grupos de jogadores batalhadores, defesas muito bem postadas e inteligência tática.

Só que as transformações táticas do futebol desmontaram Scolari. Ele sabia neutralizar aquele jogo dos anos 1990, baseado em lançamentos, velocidade e jogadas individuais. Quando o padrão Barcelona, de toques curtos, técnica e triangulações passou a vigorar, ele ficou para trás. E levou 7 a 1 de uma Alemanha que jogava dessa forma.

E é aí que surge Simeone. Não é errado dizer que o técnico argentino é o Felipão que entende o futebol moderno.

O comandante do Atlético de Madri faz sucesso porque possui exatamente as mesmas características que fizeram, no passado, o brasileiro ser considerado um dos grandes treinadores do mundo.

A diferença está em sua contemporaneidade. Simeone dá a resposta para o jogo do presente, sabe como conter os Barcelonas da vida e não ser envolvido pelas rápidas e constantes trocas de passes que caracterizam o futebol contemporâneo.

O sucesso do seu Atlético de Madri é importante para nos fazer lembrar que não existe só um jeito de se jogar futebol. E que aquele velho "estilo Felipão" ainda pode ser admirado, mesmo que tenha tido que se atualizar para isso.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.


Rafael Reis