Colocar Messi no mesmo patamar de Pelé já deixou de ser heresia
Durante décadas, aqui no Brasil, apenas levantar a hipótese de que Pelé talvez não fosse o maior jogador da história já era uma heresia digna de ser acompanhada de uma grave acusação: "você não entende nada de futebol".
E, assim, o Rei foi sobrevivendo a todos os fenômenos que foram surgindo e se aposentando nos gramados. Garrincha, Franz Beckenbauer, Johann Cruyff, Zico, Michel Platini, Romário, Ronaldo, Zinédine Zidane, Ronaldinho sequer arranharam sua armadura de ícone máximo da modalidade. Diego Maradona até fez um estrago, mas só na Argentina.
Então, surgiu Lionel Messi, e a brincadeira começou a ficar séria. Lá no começo da década, quando o Barcelona encantou o mundo na "era Guardiola", os torcedores culés já ousavam colocar o argentino acima de Pelé na hierarquia da bola. Depois, a opinião se espalhou pela Europa. Agora, há muitos brasileiros que consideram essa possibilidade.
"Vamos crucificá-los por traição à pátria e sobretudo à Vossa Majestade, o eterno camisa 10 do Santos", os mais histéricos já hão de bradar. Mas, não, eles não estão cometendo nenhuma heresia. Pelo menos, não mais…
Messi joga em altíssimo nível há pelo menos 12 anos. Nesse período todo, só ficou uma vez de fora do pódio do prêmio de melhor jogador do mundo. Ganhou cinco desses troféus e está a caminho do sexto. Também empilhou dez títulos espanhóis, quatro Liga dos Campeões (está a dois jogos da quinta) e fez mágicas semanais com a camisa do Barcelona.
Talvez (e eu digo apenas talvez) tudo isso não seja suficiente para colocá-lo acima de Pelé. Mas, certamente, basta para que a discussão sobre o tema seja considerada. Ou seja, aqueles que chamam o craque argentino de GOAT ("Greatest of All Times", ou Maior de Todos os Tempos, em português) já merecem ser respeitados.
"Mas o Rei ganhou três Copas do Mundo, e Messi, nenhuma." Bem, essa é só uma meia verdade. O camisa 10 do Barça realmente jamais venceu o Mundial de seleções, mas tem uma carreira repleta de sucesso, louros e condecorações no torneio de maior nível técnico do planeta, aquele que reúne os melhores jogadores da Terra.
É claro que a Copa tem todo um glamour único. Mas, no século 21, a competição que representa a elite do futebol mundial e o confronto entre os maiores treinadores e jogadores não é mais o Mundial, mas sim a Champions.
Essa é a razão pela qual comparar feitos de duas pessoas que viveram em épocas diferentes é tão complicado. O tempo altera padrões e cria novas situações difíceis de serem mensuradas e devidamente avaliadas.
O mais certo a dizer é que Messi representa para o futebol contemporâneo, aquele que é 100% globalizado e concentra os melhores jogadores em alguns poucos times e campeonatos, o mesmo que Pelé foi para o futebol do passado, a era romântica das seleções e de torcidas apenas locais.
Os dois são os melhores jogadores da história. Cada um, de uma história diferente.
Por isso e por tudo que estamos vendo nos gramados semana depois de semana, é preciso respeitar quem considera o argentino maior que o brasileiro.
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