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Rafael Reis

Zagueiro troca nova chance no Palmeiras por bike, ônibus e aprendizado

Rafael Reis

08/04/2018 04h00

Na hora de ir para os treinos, o zagueiro Nathan, ex-Palmeiras, costuma deixar o carro guardadinho na garagem de sua casa. As opções mais comuns são pegar um ônibus ou pedalar de bicicleta até o CT do Servette, vice-líder da segunda divisão suíça.

A troca do transporte individual pelo público e o uso de um meio de transporte ecologicamente correto são apenas duas das lições que o jogador de 22 anos aprendeu em seus primeiros oito meses vivendo na Europa.

"Não cresci só como jogador, mas também como pessoa", resume.

"O futebol daqui não é aquela ostentação que estamos acostumados no Brasil. Não temos as extravagâncias dos jogadores daí. Aqui, ando para cima e para baixo de ônibus com minha mulher e não é mico nenhum chegar ao treino de bicicleta."

Revelado nas categorias de base do Palmeiras, Nathan ganhou sua primeira chance no time profissional em 2014 e foi titular na reta final da luta do time para permanecer na primeira divisão do Brasileiro.

O zagueiro começou a perder espaço no elenco alviverde no ano seguinte. E depois, com o enriquecimento do clube e a contratação de vários reforços conhecidos, acabou emprestado para Criciúma e Chapecoense.

"Na Chape, estava jogando normalmente até ter uma lesão de tornozelo. Quando voltei, não me colocaram mais para jogar. Então surgiu a oferta do Servette e resolvi apostar nessa chance. Vim buscando um trampolim para outros mercados da Europa", admite.

O que Nathan não imagina é que aquilo que encontraria do outro lado do Oceano Atlântico mexeria tanto com sua cabeça.

Logo nos primeiros dias, o zagueiro percebeu que não havia cobrador e nem catraca nos ônibus. Foi só depois de algumas viagens sem pagar nada que ele percebeu que deveria comprar seu ingresso em um máquina localizada do lado de fora dos veículos, nos pontos de ônibus. E que não havia ninguém fiscalizando se ele realmente tinha uma passagem.

As aulas de honestidade e transporte sustentável não foram as únicas que Nathan teve na Suíça. Ele também garante que aprendeu muito dentro de campo.

"Percebi que posso me tornar um jogador bem melhor do que eu era. Os times aqui são muito organizados. Eles não têm o talento brasileiro, mas funcionam porque são muito bem montados, têm inteligência tática."

É por causa desse aprendizado que Nathan não pensa em voltar tão cedo para o futebol brasileiro, nem mesmo para o Palmeiras, clube com quem ainda tem contrato.

"Tenho muita vontade de jogar novamente no Palmeiras, mas acho que agora não é a hora, o clube está cheio de jogadores bons. Estou fazendo minha carreira aqui. Minha inspiração é o Zé Roberto, que jogou durante dez anos na Alemanha. Ele é referência como jogador e como pessoa. Quero ficar um tempo maior na Europa. Não quero parar de crescer."


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.