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Rafael Reis

Rival do Brasil, técnico do Japão foi ferido de guerra e fugiu do seu país

Rafael Reis

09/11/2017 04h30

Adversário do Brasil no penúltimo amistoso do ano, nesta sexta-feira, em Lille (França), o técnico do Japão, Vahid Halilhodzic, não tem medo de Neymar, Gabriel Jesus ou de qualquer outro jogador de futebol.

Esse sentimento simplesmente não faz mais parte do vocabulário de quem teve a vida destruída por uma guerra, foi expulso de sua terra natal e teve de conviver com olhares tortos por seu comportamento.

Halilhodzic nasceu no atual território da Bósnia, mas quando ela fazia parte da Iugoslávia, e construiu uma trajetória de sucesso no futebol francês. Ídolo do Nantes, clube pelo qual disputou mais de 160 partidas, foi duas vezes artilheiro da Ligue 1 (1982/83 e 1984/85).

Até o começo da década de 1990, sua vida não era muito diferente da de qualquer outro jogador de sucesso aposentado. O ex-atacante iniciava sua carreira como técnico do Velez Mostar, time cuja sede ficava a 50 km de sua cidade natal.

Foi aí que tudo começou a virar de ponta cabeça.

A Guerra da Bósnia, conflito armado envolvendo bósnios, croatas e iugoslavos (sérvios e montenegrinos) que matou quase 100 mil pessoas, atingiu em cheio Mostar. Halilhodzic escapou da morte, mas chegou a ser ferido em um bombardeio.

Após deixar o hospital, o hoje treinador do Japão passou a ser ameaçado pelo exército croata e precisou fugir do país. Logo após ir embora, sua casa foi saqueada e incendiada pelas forças que estavam em conflito com a Bósnia.

Expulso de sua terra natal, Halilhodzic encontrou mais uma vez refúgio na França, onde sua nova carreira realmente emplacou. O bósnio dirigiu o pequeno Beauvais, devolveu o Lille à primeira divisão e escapou do rebaixamento com o Rennes.

Em 2004, quando dirigia o Paris Saint-Germain, recebeu a mais alta honraria do governo francês. Ele foi condecorado cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra, título criado por Napoleão Bonaparte no início do século 19 e que é concedido como recompensa a civis e miliares de destaque.

A condecoração foi um raro reconhecimento para alguém que não costuma despertar os melhores sentimentos nas pessoas que o cercam. Halilhodzic é uma pessoa difícil e vive criando polêmicas.

Em 2010, quando a seleção do Togo sofreu um atentado terrorista a caminho da Copa Africana de Nações, o então treinador da Costa do Marfim disse que havia vivido coisas piores em Mostar.

O técnico também vivia em guerra com a imprensa da Argélia, seleção que comandou entre 2011 e 2014, e chegou a abandonar uma entrevista coletiva na última Copa do Mundo por não querer falar sobre o Ramadã (período sagrado dos muçulmanos, marcado por jejuns).

Caso permaneça à frente do Japão até junho do próximo ano, Halilhodzic trabalhará em sua segunda Copa do Mundo. Em 2014, ele conduziu a Argélia até as oitavas de final.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.