Topo

Rafael Reis

Falta de dinheiro minou plano megalomaníaco do País da Copa para 2018

Rafael Reis

31/08/2017 04h30

Sete anos atrás, quando foi anunciada como sede da Copa do Mundo, a Rússia acreditava que poderia arrasar em 2018. A conquista do título inédito, ou ao menos uma campanha histórica, não era considerado um sonho, mas sim um objetivo alcançável.

O plano era simples: investir pesado em um técnico de elite, no fortalecimento da liga nacional e em amistosos de primeiro escalão para fazer com que os russos chegassem ao Mundial em igualdade de forças com as seleções mais poderosas do planeta.

Só que, faltando menos de um ano para o pontapé inicial da Copa-2018, pensar em título virou um delírio para o time anfitrião, eliminado ainda na fase de grupos da última Eurocopa e da Copa das Confederações.

A meta agora é bem menos ambiciosa: simplesmente não passar vergonha dentro de casa. E o motivo é um velho conhecido brasileiro.

A queda nos preços do petróleo e do gás natural, produtos de exportação essenciais para a balança comercial da Rússia, e o crescente investimento do presidente Vladimir Putin no Exército e em ações militares deixaram o país sem dinheiro para gastar com o futebol.

Resultado: nenhum dos pilares sobre os quais os russos pretendiam construir uma seleção capaz de se sagrar campeã mundial conseguiu permanecer em pé.

Para começar, Stanislav Cherchesov, o atual comandante da equipe anfitriã da Copa-2018, está longe de ser um treinador do primeiro escalão mundial. Ex-Dínamo de Moscou, Spartak e Légia Varsóvia, ele tem como título mais importante de sua carreira o Campeonato Polonês de 2016.

Mas Cherchesov é o técnico que a Rússia pode pagar. Ele recebe 2 milhões de euros (R$ 7,6 milhões) anuais, menos de um terço do salário de 7,3 milhões de euros (R$ 27,8 milhões) que Fabio Capello recebia durante sua passagem pela seleção.

No período em que dirigiu a equipe russa, o treinador italiano (ex-Milan, Real Madrid e Juventus, entre outros) chegou a ser o mais bem pago do mundo. Só que o dinheiro acabou, seus salários começaram a atrasar e ele teve seu contrato rescindido em 2015.

O encolhimento da economia russa também impediu o fortalecimento do campeonato nacional e, consequentemente, o desenvolvimento dos jogadores que podem ser convocados para o Mundial do próximo ano.

Em duas das três últimas temporadas, os clubes da primeira divisão russa ganharam mais dinheiro com venda de jogadores do que gastaram com a chegada de reforços. O valor investido em contratações encolheu de 322,8 milhões de euros (R$ 1,2 bilhão), em 2013, para pouco mais de 104 milhões de euros (R$ 396 milhões), na atual temporada.

Por fim, a Rússia não tem conseguido medir forças com as melhores seleções do mundo. Como não disputa as eliminatórias, o país-sede da Copa depende exclusivamente de amistosos para testar seu nível atual.

Só que jogar contra Alemanha, Brasil, Espanha, França e os outros times de primeiro escalão requer o pagamento de cachês generosos, o que os russos não estão dispostos a fazer neste momento.

A consequência disso são amistosos menos interessantes do ponto de vista técnico, como o encontro com a Hungria, em junho, ou a partida contra a Costa do Marfim, em março. Nesta Data Fifa, o único teste será contra o Dínamo Moscou, atual campeão da segunda divisão russa.


Mais de Seleções:

– Eliminatórias podem derrubar Brasil para 3º lugar de ranking da Fifa
– Conheça as seleções que podem se classificar para a Copa nesta Data Fifa
– Tentáculos do Qatar no futebol vão muito além de Neymar, PSG e Copa
– Como obsessão de Löw salvou a Alemanha da "maldição dos campeões mundiais"

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.