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Rafael Reis

Tentáculos do Qatar no futebol vão muito além de Neymar, PSG e Copa

Rafael Reis

08/08/2017 04h00

A chegada de Neymar ao Paris Saint-Germain e os 222 milhões de euros (R$ 814,9 milhões) desembolsados pelo clube na contratação mais cara da história foram apenas uma pequena demonstração do poderio financeiro e da vontade do Qatar de investir no futebol.

O pequeno país do Oriente Médio, de pouco mais de 2,6 milhões de habitantes e economia centrada na exploração do petróleo, escolheu o esporte mais popular do mundo para ser conhecido globalmente. E não tem economizado para alcançar esse objetivo.

Ser sede da Copa do Mundo-2022 e transformar o PSG em um dos clubes mais poderosos e temidos do planeta são a parte mais visível desse plano. Mas, ele vai muito além disso.

Os tentáculos do Qatar estão espalhados por pelo menos quatro dos cinco continentes na bola. Europa, Ásia, África e América contam hoje com dinheiro qatariano na estrutura do futebol.

Só o PSG gastou 941 milhões de euros (R$ 3,4 bilhões) com a contratação de reforços desde 2011, quando foi comprado pelo QSI (Qatar Sports Investiment), um fundo de investimento esportivo bancado pela família real e usado estrategicamente na propaganda da nação.

Foi também o QSI que injetou pelo menos 300 milhões de euros no Barcelona (R$ 1,1 bilhão) entre 2010 e o fim da última temporada em contratos de patrocínio, primeiro da Qatar Foundation e depois da Qatar Airways.

O fundo ligado ao governo qatariano é também o responsável pelo pagamento dos cachês às personalidades do mundo do futebol que trabalham como embaixadores da Copa-2022. Pep Guardiola, Xavi e Neymar já passaram ou continuam no cargo.

O Mundial do Qatar, que terá um custo estimado de US$ 30 bilhões (R$ 93,8 bilhões), já é um dos mais polêmicos da história. A escolha do país como sede da competição foi marcada por suspeitas (comprovadas posteriormente) de compra de votos de membros do comitê executivo da Fifa.

Mas, curiosamente, não é nem a Copa, muito menos o QSI, o projeto esportivo que faz com que o Qatar estenda seus tentáculos por praticamente todo o globo terrestre.

Essa função cabe à Academia Aspire, um imenso complexo educacional e esportivo que recebe anualmente adolescentes garimpados em peneiras em países tão diversos quanto Paraguai, Senegal, Vietnã e Tailândia.

Esses garotos, alguns deles que o Qatar planeja naturalizar para usar em sua seleção na Copa-2022, encontram duas portar escancaradas na Europa: o Eupen, clube da primeira divisão belga que pertence à Aspire e cujo elenco está cheio de crias do projeto, e Cultural Leonesa, da segundona espanhola.

Além disso, outros clubes importantes do cenário europeu, como Real Madrid, Real Sociedad, Villarreal e Red Bull Salzburg, recebem garotos formados pelo governo do Qatar. Mais uma demonstração do gigantesco tamanho da força do país-sede da Copa-2022.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.