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Rafael Reis

Herói de Portugal ganhava um pedaço de carne por gol marcado

Rafael Reis

11/07/2016 06h00

O gol que deu a Portugal a vitória por 1 a 0 sobre a França e o inédito título da Eurocopa rendeu a Éder, 28, muito mais do que o pedaço de carne com que costumava ser premiado na adolescência.

Durante anos, foi essa a bonificação recebida pelo novo herói nacional português cada vez que ele balançava as redes.

O acordo foi selado entre o atacante e o dono de um açougue, torcedor fanático da Acadêmica, clube da cidade de Coimbra que Éder defendeu entre os 12 e os 18 anos.

Para o garoto Éderzito António Macedo Lopes, marcar gols era então a única forma de garantir um prato cheio. Seu primeiro salário, de 400 euros mensais (R$ 1.450, na cotação atual), só foi conquistado depois de deixar o time em que foi formado.

Nascido em Guiné-Bissau, o atacante chegou em Portugal aos três anos, mas foi deixado por seus pais em uma instituição semelhante a um orfanato, que cuidava de crianças de famílias pobres.

No Lar Girassol, onde cresceu, Éder acumulou castigos (normalmente ficar sem televisão e ter de ir para a cama mais cedo), normalmente por quebrar janelas com seus chutes nada certeiros dadas no futebol com os outros meninos.

O jogador estreou na primeira divisão portuguesa em 2008, jogando pela Académica de Coimbra. Quatro anos depois, transferiu-se para o Braga.

Apesar de nunca ter sido artilheiro de nenhuma competição importante e ter de uma média de apenas sete gols por temporada, Éder chegou à seleção portuguesa em 2012, disputou a Copa do Mundo-2014 e acabou contratado pelo Swansea City.

Na Premier League inglesa, viveu a pior fase de sua carreira. Foram nove meses sem marcar um mísero gol até ser emprestado ao Lille, em fevereiro, e garantir sua vaga na Eurocopa.

Contestado pelos torcedores, foi preterido da equipe titular pelo técnico Fernando Santos apesar de ser a única opção de área convocada por Portugal. Antes da decisão da Euro, só havia tido 13 minutos em campo (seis contra a Islândia e mais sete ante a Áustria).

Na final contra a França, foi a opção de fim do jogo do treinador para dar alguma força ofensiva a um time que sofria sem seu craque, Cristiano Ronaldo. Deu apenas dois chutes. Um deles, o mais importante da história de Portugal.

"O Éder é um rapaz extraordinário, não mereceu a forma como foi tratado", afirmou o zagueiro José Fonte, sobre o agora ídolo lusitano.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.