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Rafael Reis

Criada para ganhar cerveja, cavadinha nasceu há 40 anos e decidiu Euro

Rafael Reis

20/06/2016 12h00

Imagine a cena: decisão por pênaltis de um campeonato continental, e cabe a você a responsabilidade da última cobrança, aquela que pode dar ao seu time o título mais importante de sua história. Para ajudar, seu adversário é o melhor goleiro do mundo.

A opção mais segura seria meter uma pancada, um chute indefensável no canto ou meio do gol. Mas não, você escolhe dar um toque leve na bola.

Se apelar para a cavadinha em um momento tão importante já deixaria qualquer torcedor com calafrios hoje em dia, imagina 40 anos atrás, quando a jogada foi executada em público pela primeira vez.

Panenka

O maluco que teve a coragem de fazer isso foi o ex-meia-atacante Antonín Panenka, hoje presidente do Bohemians, da República Tcheca.

No dia 20 de junho de 1976, ele escreveu seu nome na história do futebol por dar o título da Eurocopa para a Tchecoslováquia e, principalmente, por inventar a cavadinha.

A Panenka, nome que faz jus ao seu criador e como o lance é conhecido no Velho Continente, foi apresentada ao planeta no quinto e último pênalti tcheco na decisão contra a Alemanha Ocidental, do goleiro Sepp Maier –o jogo havia ficado empatado por 2 a 2.

"Nunca quis ridicularizá-lo. Não conheço ninguém que teria coragem de fazer graça quando a Eurocopa está em jogo. Pelo contrário, escolhe aquela forma de cobrar o pênalti porque percebi que era o jeito mais fácil e simples de fazer o gol", disse o ex-jogador, ao site da Uefa.

Ao contrário do que pensou boa parte do público que se surpreendeu com aquela cavadinha, Panenka não improvisou na final da Euro. Ele apenas colocou em prática um recurso que foi aperfeiçoado por ele durante dois anos e que lhe rendeu muitas barras de chocolates e copos de cervejas.

"Depois de cada treino, eu costumava disputar uma aposta batendo pênaltis contra o nosso goleiro [do Bohemians]. Como ele era muito bom, aquilo começou a ficar caro para mim. Então, comecei a pensar em formas de derrota-lo para recuperar o que tinha perdido", contou.

"Então, tive a ideia de atrasar o chute porque o goleiro que já tivesse saltado para um canto não poderia voltar atrás. Comecei a testar essa técnica para colocá-la em prática. O efeito colateral foi que comecei a ganhar peso porque estava vencendo as apostas", divertiu-se.

O lance alavancou a carreira de Panenka, que foi eleito o melhor jogador da Tchecoslováquia em 1980, transferiu-se para a Áustria no ano seguinte e se tornou um dos grandes personagens da história do futebol.

A jogada que ele criou, a cavadinha, também se eternizou. Zinedine Zidane e Loco Abreu a usaram em jogos da Copa do Mundo. Pirlo, Sergio Ramos e Totti, em partidas da Eurocopa. Neymar, Rogério Ceni e tantos outros, em gramados brasileiros.

Todos eles arrancaram suspiros dos torcedores que viram a bola lentamente atravessar a linha do gol. Mas nenhum levou os espectadores tanto a loucura quanto Panenka, naquele histórico dia 40 anos atrás.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.