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Rafael Reis

Mentor de Guardiola e Sampaoli, "Loco" luta para ser campeão após 15 anos

Rafael Reis

11/03/2019 04h00

Em quase três décadas de carreira, Marcelo Bielsa consolidou-se como um dos técnicos mais revolucionários do futebol mundial, inspirou Pep Guardiola, foi mentor de vários treinadores argentinos, dentre eles Jorge Sampaoli, hoje no Santos, e ganhou admiradores ao redor de todo planeta.

"El Loco", como é conhecido desde seus primeiros anos no banco de reservas, só não conseguiu se transformar em um acumulador de títulos. Foram apenas quatro em sua trajetória como profissional. O último, a medalha ouro com a seleção argentina nos Jogos Olímpicos de Atenas-2004, já está prestes a completar 15 anos.

Crédito: Divulgação

Mas, nesta temporada, Bielsa tem uma grande oportunidade de acabar com esse incômodo jejum e voltar a gritar "campeão".

O Leeds United, time que dirige desde junho, ocupa a vice-liderança da Championship, a segunda divisão inglesa. Com 70 pontos conquistados em 36 rodadas, está apenas dois atrás do Norwich City, primeiro colocado.

A tradicional equipe do uniforme todo branco, que foi vice-campeã europeia em 1975, fez sucesso entre o final da década de 1990 e o início dos anos 2000 e está afastada da Premier League desde 2004, tem sido uma espécie de ressurreição na carreira de Bielsa.

O argentino não tem um trabalho de destaque desde que foi finalista da Liga Europa e da Copa do Rei em 2012, pelo Athletic Bilbao. Depois, foi bem mais ou menos no Olympique de Marselha, ficou apenas 48 horas no comando da Lazio e sobreviveu a apenas meia temporada no Lille antes de ser demitido para o clube evitar seu rebaixamento.

Contratado a peso de ouro pelo Leeds, com o maior salário da história do clube (2,9 milhões de euros anuais, cerca de R$ 13 milhões) e ganhos compatíveis a treinadores da primeira divisão, Bielsa caiu imediatamente nas graças do torcedor.

A invencibilidade de oito jogos já na largada da Championship e a constante manutenção na zona de acesso para a Premier League certamente ajudaram, assim como as excentricidades que lhe valeram o apelido de "Loco".

Logo no início da temporada, o técnico colocou seus jogadores para recolherem lixo e fazerem a faxina do centro de treinamentos durante três horas. A atividade, segundo o treinador, era uma forma de fazer sus comandados lembrarem do esforço feito pelos torcedores para comprarem ingressos e irem ao estádio apoiar o time.

Já em janeiro, Bielsa teve de confessar que enviou um olheiro ao treino do Derby County para observar o adversário depois que esse seu apoiador foi preso pela polícia por invasão do CT rival. O treinador admitiu ainda que usava esse expediente desde os tempos em que dirigia a seleção argentina.

Em meio ao escândalo provocado pela espionagem, "Loco" anunciou que deixará o Leeds caso não consiga o acesso à primeira divisão.

Detalhista ao extremo e obsessivo por conceitos como posse de bola, futebol ofensivo e marcação sob pressão, o ex-zagueiro despontou no cenário sul-americano no começo da década de 1990, quando foi bicampeão argentino pelo Newell's Old Boys e levou a equipe à decisão da Libertadores-1992 –acabou derrotada pelo São Paulo.

Em 1998, assumiu o comando da Argentina, onde comprou briga com vários astros do país, como Fernando Redondo e Gabriel Batistuta. Entre 2007 e 2011, dirigiu o Chile e fez da seleção sul-americana um time temido até pelas potências europeias.

Foi na época que dirigia o Chile que Bielsa recebeu a visita de Guardiola para orientá-lo sobre os primeiros passos que deveria dar na nova carreira, a de técnico de futebol. Até hoje, o comandante do Manchester City costuma chamar o argentino de "melhor técnico do mundo".

Também foi no futebol chileno que o caminho do "Loco" cruzou com o de Jorge Sampaoli. O agora treinador do Santos dirigia a Universidad de Chile no final da passagem de Bielsa pelo país e adaptou o estilo de jogo do mentor à sua equipe.

Depois, como um herdeiro natural do cargo, acabou também assumindo a seleção e dando sequência ao trabalho do mestre, que agora tenta acabar com seu jejum pessoal de títulos e voltar ao primeiro escalão do futebol mundial.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.