Topo

Rafael Reis

Tite precisa aprender a usar Firmino, o melhor camisa 10 do Brasil

Rafael Reis

18/01/2019 04h00

Em 29 jogos pela seleção brasileira, Roberto Firmino marcou oito gols e distribuiu três assistências. Na prática, isso significa que ele participa de 0,38 jogada que termina em bola na rede a cada partida que disputa.

Já no Liverpool, o alagoano de Maceió ostenta 60 tentos e 43 passes para gol ao longo de 174 apresentações oficiais. Ou seja, ele tem atuação direta em quase 0,60 gol a cada 90 minutos de futebol.

Crédito: Divulgação

A discrepância entre esses dois números escancara uma das missões mais urgentes de Tite no comando da seleção: aprender a usar Firmino corretamente.

O objetivo não tem nada de individualista e, muito menos, de banal. Fazer o jogador render tudo que pode na equipe canarinha é essencial. Afinal, apesar de usar o número 9 nos Reds, ele é o melhor camisa 10 do futebol brasileiro na atualidade.

Sim, eu sei que Neymar tem exercido exatamente essa função no Paris Saint-Germain e eventualmente também na seleção. Mas a aptidão de Firmino para trabalhar na criação das jogadas é até maior do que a do craque do PSG.

E a explicação para isso é uma só: cérebro. Sob a orientação do técnico alemão Jürgen Klopp, o brasileiro se transformou em um dos jogadores de maior inteligência tática do futebol mundial.

Se Mohamed Salah virou um dos atacantes mais temidos da atualidade, parte considerável da responsabilidade é de Firmino, que aprendeu a se movimentar em campo de forma que abrisse espaço para as entradas em diagonal do egípcio.

O sucesso do Liverpool finalista da Liga dos Campeões na temporada passada e líder desta edição do Campeonato Inglês também passa pelo brasileiro, que disputou todos os 30 jogos do clube em 2018/19.

Até a temporada passada, Firmino era, pelo menos no papel, o centroavante dos Reds. Na prática, ele se comportava como um falso 9, que recuava ao meio-campo para participar da criação das jogadas ofensivas e abria espaços para Salah e Sadio Mané ocuparem.

Mas, nos últimos meses, o brasileiro mudou de posicionamento e foi recuado para jogar logo atrás do astro egípcio. No esquema 4-2-3-1 implantado por Klopp, o alagoano é o principal armador da equipe, o cara que joga pela faixa central do campo e municia o atacante. Ou seja, o camisa 10.

A adaptação de Firmino à função foi das mais tranquilas. Afinal, era assim que ele jogava lá no início de sua carreira europeia, em 2011, pelo Hoffenheim. Foi também nessa posição que ele teve sua melhor atuação na temporada, o hat-trick (três gols em um jogo) na goleada por 5 a 1 sobre o Arsenal, no fim do mês passado.

A seleção volta a campo em março, contra adversários ainda não definidos. E Tite cometerá um erro danado se colocar Firmino para disputar posição com Gabriel Jesus ou qualquer outro atacante que venha a ser convocado.

O jogador do Liverpool precisa ser escalado na função de camisa 10. É nessa posição que ele conseguirá, enfim, mostrar tudo o que sabe para o torcedor brasileiro.


Mais de Opinião

– Após fracassar na Europa, Ganso ainda pode dar certo no futebol brasileiro?
– 5 motivos para acreditar em uma "zebra" neste Mundial de Clubes
– Acerto, Liga das Nações ignora ressaca pós-Copa e "pega de primeira"
– Superliga europeia é ideia elitista, mas parece caminho inevitável

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.